“E aconteceu que um
anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles;
e ficaram aterrorizados. Mas o anjo lhes disse: ‘Não tenham medo. Estou lhes
trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo: Hoje, na
cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Isto lhes
servirá de sinal: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura’” (Lucas
2.9-11).
Estamos novamente no Natal e, como sempre, nós o vemos misturado
com crendices, superstições e idolatrias acrescentadas ao evento ao longo dos
séculos. Por isso, cremos ser oportuno tentar organizar uma cronologia bíblica
do nascimento de Jesus: O que é e o que não é bíblico nas comemorações do Natal?
Conforme todos sabem, os acontecimentos do nascimento de Jesus Cristo estão
narrados em quatro capítulos de dois dos evangelhos do Novo Testamento: Mateus
e Lucas.
Cronologicamente, o primeiro capítulo de Lucas começa com um prefácio (1-4)
e a seguir apresenta o anúncio do nascimento de João Batista, o
precursor de Jesus, a Zacarias, seu pai (5-25), quando ele servia como
sacerdote no Templo; Zacarias não crê no anúncio do anjo, fica mudo e vai para
casa após terminar seu serviço sacerdotal. Isabel fica grávida. A seguir, o nascimento de Jesus é anunciado pelo anjo Gabriel a
Maria (26-38). Maria visita sua prima Isabel (39-57), João Batista estremece no
ventre de Isabel quando Maria a saúda; Maria canta engrandecendo a Deus e fica
cerca de três meses com Isabel. João Batista nasce, Zacarias recupera a voz e
diz que o nome do filho é João; Zacarias canta louvando a Deus (57-80).
No primeiro capítulo de Mateus, o nascimento de Jesus – anunciado
a Maria em Lucas 1.26-38 – é também anunciado a José (Mateus 1.18-25). O evento
do nascimento de Jesus está narrado em Lucas 2.1-7, sendo o mesmo anunciado aos
pastores de ovelhas que trabalhavam à noite no campo (8-20), os quais vão a
Belém conferir todas as coisas. Jesus é circuncidado e nomeado no oitavo dia de
vida (21). Após os dias da purificação, Jesus é apresentado no Templo, em
Jerusalém, onde Simeão e Ana, dois anciãos, reconhecem em Jesus o Messias
prometido (Lucas 2.22-38). Magos vêm do Oriente seguindo uma estrela (Mateus 2.1-12), buscam
informação em Jerusalém, alvoroçam Herodes, vão a Belém em busca do “Rei dos
Judeus”, oferecem-lhe como presentes ouro, incenso e mirra e, alertados em
sonho por divina revelação, voltam para sua terra por um outro caminho. Avisados
por um anjo do Senhor, José, Maria e o menino fogem para o Egito, onde
permanecem até a morte de Herodes (13-15). Iludido pelos magos, Herodes manda
matar todos os meninos de Belém e arredores com dois anos de idade para baixo
(16-18). Após a morte de Herodes, a família volta para Nazaré, para que se
cumprisse sobre Jesus a profecia que afirmava “ele será chamado Nazareno”
(19-23).
Lucas termina sua narrativa com a ida da família de Jesus, então
na adolescência com doze anos, para a festa da Páscoa em Jerusalém, ocasião na
qual, na volta para casa, após um desencontro, encontram Jesus no Templo, no
meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os (Lucas 2.39-52). O episódio se
encerra com um versículo que mostra o crescimento e desenvolvimento homogêneo
de Jesus: “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para
com Deus e os homens”.
Conforme se viu até aqui, nos fatos referentes ao nascimento de
Jesus narrados na Bíblia, não há lugar para árvore de natal (com
tudo o que se usa para enfeitá-la), neve (e seus complementos), Papai
Noel (e tudo o que o acompanha), bem como para tudo aquilo que se
acrescentou ou ainda está para ser acrescido ao longo dos séculos.
Tanto Mateus quanto Lucas preocuparam-se em levantar a genealogia
de Jesus, Mateus partindo de Abraão até chegar a José (Mateus 1.1-17) e Lucas
partindo de José até chegar a Adão, terminando por afirmar “e Adão (filho) de
Deus”, unindo a encarnação de Cristo à criação de Deus no Éden (Lucas 3.23-38).
Embora Mateus e Lucas tenham sido os dois únicos evangelhos a
narrarem os fatos do Natal de Cristo, creio que é oportuno lembrarmos aqui um
outro evangelho, o de João. Ainda que não se refira aos eventos do Natal, João
inicia seu evangelho de forma muito significativa: “No princípio, era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. No grego do
Novo Testamento, o termo usado para “verbo” é “logos”, que
significava palavra, descrição ou explicação; no entanto, os
gregos usavam o termo não apenas para palavra falada, mas também em
referência à palavra ainda na mente, sem ter sido proferida –
a razão. Quando logos era aplicado com relação ao
universo, os gregos referiam-se ao princípio racional que governa todas
as coisas, conforme o filósofo Heráclito, do século V antes de Cristo,
usou-a no sentido de princípio de ordenação para o universo.
Comparado com o pneuma (espírito) pelos estoicos, entendiam
eles que havia um logos dentro de cada pessoa (a razão humana)
e um logos que permeava o universo (a racionalidade que
governa o mundo), o logos interior do homem capacitando-o a
agir em harmonia com o logos do universo.
O que João quer dizer quando descreve Jesus como o Logos?
A ligação com Gênesis 1 é imediata: o Logos é aquele pelo qual
todas as coisas foram feitas, ou seja, Cristo. Na sua pessoa, Cristo é o Logos,
a verdade, o princípio orientador do universo e da alma de todo ser humano, não
apenas uma simples abstração da "racionalidade" teórica, mas uma
pessoa. Através do Logos que é Cristo, o indivíduo pode chegar
à harmonia com Deus e com sua criação.
Que o Logos de Deus, que se fez homem em Belém, possa nascer e ser resgatado como “o aniversariante” neste Natal, renovando-nos as forças, a esperança e a fé para vivermos o ano novo de forma mais adequada à vontade de Deus, são os nossos votos.
Que o Logos de Deus, que se fez homem em Belém, possa nascer e ser resgatado como “o aniversariante” neste Natal, renovando-nos as forças, a esperança e a fé para vivermos o ano novo de forma mais adequada à vontade de Deus, são os nossos votos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário