20 séculos de Igreja Cristã

20 séculos de Igreja Cristã
do século I ao século XXI

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

2. OS APÓSTOLOS E A IGREJA

“É necessário, pois, que, dos varões que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da sua ressurreição.” (Atos 2.21-22)

Doze foram os apóstolos, os discípulos mais chegados que Jesus preparou e enviou para a pregação da mensagem do evangelho. Judas suicidou-se ao trair seu Mestre. No início de Atos, o número doze foi restabelecido, com a eleição de Matias. Até o início do capítulo 8, somos informados de que todos os apóstolos estavam em Jerusalém. O que aconteceu com esses homens no início da história da Igreja? É importante lembrarmos que Atos não menciona a maioria deles nominalmente, havendo relatos de apenas três em suas páginas: Pedro, Tiago filho de Zebedeu, e João. Comecemos, portanto, com eles e partamos para outras fontes, valendo-nos inicialmente da tradição bíblica, segundo a “História da Igreja em Quadros”, de Robert. C. Walton.

Pedro, como líder inicial dos apóstolos e da Igreja, é o mais mencionado por Lucas em Atos, informando-nos que ele pregou o sermão no Dia de Pentecostes, curou o coxo na porta do templo e foi perseguido pelo Sinédrio; além disso, repreendeu Ananias e Safira, também a Simão, o mágico, ressuscitou Dorcas, pregou o evangelho a Cornélio e foi milagrosamente libertado da prisão. Informa ainda Atos que Pedro foi repreendido por Paulo em Antioquia e sabemos que escreveu duas epístolas do Novo Testamento. Fora do relato bíblico de Atos, a tradição afirma que Pedro visitou a Bretanha e a Gália, além de ter sido crucificado de cabeça para baixo em Roma durante perseguição comandada por Nero entre os anos 64 e 68 do século I.

João, o segundo mais mencionado, participou da cura do coxo na porta do templo com Pedro e acompanhou o trabalho de Filipe em Samaria. Já no fim da vida, foi exilado na ilha de Patmos e escreveu um evangelho, três epístolas e o livro do Apocalipse. A tradição da Igreja acrescenta a isto que João serviu em Éfeso, repreendeu Cerinto, um gnóstico da igreja primitiva, e morreu de morte natural em Éfeso no ano 100.

Tiago, filho de Zebedeu, é outro apóstolo mencionado em Atos, por conta de sua execução por Herodes Antipas I. São apenas estas as menções do livro de Atos sobre os doze apóstolos. Tudo o mais vai ser narrado segundo a tradição da Igreja.

Sobre André, acredita-se que pregou na Cítia, na Ásia Menor e na Grécia, tendo sido crucificado em Patras, na Acaia. De Filipe, sabe-se que foi crucificado, segundo se diz, em Hierápolis, na Ásia Menor. Sabemos que Mateus escreveu um evangelho que leva o seu nome. A tradição afirma, de forma algo contraditória, que ele atuou na Etiópia, na Pártia, na Pérsia e na Macedônia. Acredita-se que Tomé pregou na Babilônia, sendo que uma tradição muito antiga e bastante reconhecida o menciona fundando igrejas e finalmente sendo martirizado na Índia. Bartolomeu deve ter acompanhado Filipe em Hierápolis, sendo martirizado depois do seu ministério na Armênia. Tiago, filho de Alfeu, muitas vezes confundido com Tiago, irmão de Jesus na tradição da igreja primitiva, possivelmente desenvolveu seu ministério na Síria. A respeito de Tadeu, muitas vezes confundido com Judas, outro irmão de Jesus, a tradição associa seu ministério com Edessa. Simão, o Zelote, é associado, de modo conflitante e dúbio, com a Pérsia, com o Egito, com Cartago e com a Bretanha.

Sobre Judas Iscariotes, já lembramos que enforcou-se após trair a Jesus Cristo.

Há quem conteste a eleição de Matias para o colégio apostólico, já que todos os outros foram indicados pelo próprio Senhor Jesus e Matias foi escolhido por sorte. Comentando o assunto, o pastor John Stot menciona em um de seus textos três fatores, “as Escrituras, o bom senso e a oração”, que “constituem uma combinação completa, confiável, pelo qual Deus nos guia hoje”, alinhando-se com os que recebem de bom grado a revelação histórica de Lucas no livro de Atos.

Matias, o discípulo que é mencionado apenas como aquele que tomou o bispado de Judas, desapareceu da narrativa de Lucas, depois da perseguição inicial dos judeus, como a maioria dos apóstolos: o que será que aconteceu com ele?
Segundo as palavras de Pedro, Matias havia sido seguidor de Jesus durante cerca de três anos e meio do seu ministério e havia estado intimamente associado com os apóstolos. Provavelmente era um dos setenta discípulos ou evangelistas que Jesus enviou para pregar, segundo o relato de Lucas 10. Após a sua escolha, ele foi "contado com os onze apóstolos" pela congregação e quando o livro de Atos logo depois fala dos "apóstolos" ou dos "doze", isso incluía Matias. Segundo a tradição, Matias pregou o Evangelho na Judeia, na Etiópia e na região da Cólquida (agora conhecida como Geórgia Caucasiana), onde foi crucificado; um marco localizado naquela região indica o lugar onde Matias pode ter sido sepultado. Outra tradição menos confiável menciona que Matias foi enterrado em Jerusalém pelos judeus, onde teria sido decapitado. Já a tradição dos Pais da Igreja, através de Hipólito de Roma, informa que Matias teria morrido em Jerusalém em idade avançada.
Doze foram os apóstolos iniciais, um traiu e se suicidou, tendo sido substituído; mais tarde, aparece o apostolado de Paulo, que se apresenta como apóstolo, embora estejamos conscientes de que ele não preenchia as condições apresentadas por Pedro na eleição de Matias. Quanto ao apostolado de Paulo e sua convocação pelo próprio Senhor, na qual ele se considera “como um abortivo”, não há o que discutir com relação à firmeza de sua conversão, suas convicções e seus ensinos. Paulo é, com certeza, o apóstolo mais acompanhado pelo livro de Atos, já que seu amigo e companheiro de viagem Lucas foi o autor do texto.

Já que mencionamos Paulo e viagens, quantas viagens missionárias fez o apóstolo Paulo? Três, conforme menciona Lucas em Atos, ou terá havido uma quarta viagem? Sobre isto, bem como os demais acontecimentos importantes que ocorreram no primeiro século do cristianismo, teremos informações no próximo fascículo.

 
 

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