20 séculos de Igreja Cristã

20 séculos de Igreja Cristã
do século I ao século XXI

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

8. O LEGADO DE CONSTANTINO

“Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus.” (Mateus 22.21)
Constantino é considerado por muitos como o primeiro imperador romano cristão, já que, antes dele, todos os demais cesares e augusti eram pagãos e adoradores das divindades do Império. No entanto, Constantino não oficializou o Cristianismo como religião em todo o Império Romano, embora sua atuação tivesse começado a criar as condições para isto. Aliviando a situação da Igreja perseguida com sua intervenção, Constantino permitiu que a igreja se expandisse e conquistasse espaço no império. Além disso, Constantino foi um imperador que tentou pôr em ordem a vida política, militar e social do império, já em decadência quando assumiu o poder. Ele teve muitos confrontos e lutas com diversos líderes e pretendentes ao trono, numa época na qual ainda prevalecia a tetrarquia iniciada por Diocleciano. Após os confrontos, Constantino assumiu como único imperador em 324, permanecendo no poder até sua morte em 337. Três dos seus filhos o sucederam no poder, a saber, Constantino II, Constâncio e Constante, os quais, após sua morte, dividiram o império em três partes, governando inicialmente cada um de uma divisão. Depois de muitos conflitos com os irmãos, Constâncio II tornou-se o único “augustus”.

Ainda como imperador, Constantino construiu uma nova residência imperial, num lugar conhecido no passado como Reino de Bizâncio, chamando a cidade de Nova Roma. Em homenagem a Constantino, a cidade foi renomeada como Constantinopla após a sua morte,  a qual viria a ser a capital do Império Romano do Oriente por mais de mil anos. Constantino reconstruiu a antiga cidade grega de Bizâncio em 330, dotando-a de um Senado e instituições cívicas semelhantes à estrutura existente na antiga Roma, como um fórum, prefeitura e distribuições de trigo para a população. A mudança da capital imperial enfraqueceu a influência do bispo de Roma e fortaleceu o bispo de Constantinopla sobre o Oriente, um dos eventos notáveis que provocariam futuramente o Grande Cisma dentro do Catolicismo.
Após os governos de Constantino e de seus três filhos, todos alinhados com o Cristianismo, as condições da Igreja sofreriam uma mudança, embora por pouco tempo, quando um sobrinho-neto de Constantino chamado Juliano assumiu o poder. Juliano, que passou para a história como “o Apóstata”, tentou anular toda a influência conquistada pelo Cristianismo até então, voltando-se para o paganismo, num curto reinado que gerou alguma perseguição aos cristãos.

Nascido em Constantinopla em 331, Juliano cresceu na sombra do imperador Constâncio II, tendo sido vítima de suas suspeitas. Tendo recebido severa educação cristã, ele logo cedo demonstrou preferências por autores clássicos pagãos e filósofos neoplatônicos. Estudando em Atenas, Juliano desenvolveu uma forma mística de paganismo associada à magia, tendo se declarado pagão ao iniciar o mandato como imperador. Ele atacou duramente o cristianismo, tendo escrito várias obras, entre elas uma chamada “Contra os Galileus”. Seguindo suas tendências, Juliano restaurou o paganismo, ordenando a reabertura e restauração dos templos pagãos. Homem inteligente de formação erudita, deixou vários escritos de teologia pagã, além de um Hino ao Rei Sol. Ferido de morte numa batalha, segundo a tradição, teria dito antes de morrer: “Venceste, ó Galileu!”

Embora Constantino tenha sido considerado o primeiro imperador romano cristão, ele não oficializou o cristianismo como religião em todo o império, ainda que tenha aliviado bastante a situação da Igreja, perseguida até a sua chegada. O fato é que, com sua intervenção (controvertida e envolta em névoas criadas pela tradição), a igreja teve oportunidade de expansão e de conquista de espaço no cenário imperial, ao ponto de um outro imperador, no final do século IV, ter decretado sua oficialização em todo o império.
No final do século IV, assumiu o poder imperial Flavius Theodosius, ou Teodósio (347-395), em cujo reinado muita coisa importante aconteceu. Após uma vida repleta de batalhas contra tribos germânicas e conflitos pela posse do poder, em 380, Teodósio tomou posse de Constantinopla, que seria sua capital e residência por oito anos. No mesmo ano assinou, juntamente com mais três autoridades imperiais romanas, o Edito de Constantinopla, o qual se iniciava com as seguintes palavras: "Queremos que todos os povos governados pela administração da nossa clemência professem a religião que o divino apóstolo Pedro deu aos romanos...” Era o início da oficialização do Cristianismo como religião oficial do Império. Numa época em que movimentos como o Arianismo, heréticos na visão do catolicismo que se implantava, aconteciam no Império, a lei promulgada terminava de forma ameaçadora: “Ordenamos que tenham o nome de cristãos católicos quem siga esta norma, enquanto os demais os julgamos dementes e loucos, sobre os quais pesará a infâmia da heresia. Os seus locais de reunião não receberão o nome de igrejas e serão objeto, primeiro da vingança divina, e depois serão castigados pela nossa própria iniciativa que adotaremos seguindo a vontade celestial."

Teodósio foi o último líder de um Império Romano unido; após sua morte, o império se dividiu e nunca mais foi governado por um só imperador. O Império Romano, que existira por tantos séculos, demonstrando tanta força e pujança em muitos momentos, dividia-se em duas partes: Império Romano do Ocidente, com a capital em Roma, e Império Romano do Oriente, com a capital em Constantinopla. Destinos diferentes teriam as duas partes de um antigo Império Romano unido e agora dividido.

O século V também teve sua importância para a Igreja e para o império Ocidental, pois, enquanto a Igreja se consolidava cada vez mais como Catolicismo Romano, o império se enfraquecia a passos largos, rumo à queda. Com a divisão, cada vez mais a parte ocidental sofria com a ameaça dos bárbaros. Na parte Oriental, Teodósio fez acordo com povos bárbaros germânicos, reconhecendo que eles, especialmente os teutônicos e germânicos, podiam ajudar o exército, bastante minado pelas lutas internas. Teodósio os admitiu como soldados e oficiais, de modo que em suas legiões, tanto romanos como teutônicos se encontravam entre seus generais.
Momento importante para a Igreja e para a Cristandade no final do século IV, a canonização da Bíblia, em especial do Novo Testamento, será o assunto a ser abordado no próximo fascículo.

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