20 séculos de Igreja Cristã

20 séculos de Igreja Cristã
do século I ao século XXI

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

13. JUDAÍSMO, CRISTIANISMO, ISLAMISMO

“... será que Deus é somente Deus dos judeus? Será que não é também Deus dos não judeus? Claro que é!”  (Romanos 3.29)


Jerusalém tem sido, historicamente, palco de muitos interesses e de muitas batalhas. Nos nossos dias, judeus, cristãos e muçulmanos lutam pela posse daquele território, bem como de toda a região do Oriente Médio onde a cidade se insere, numa guerra que parece não ter fim. Como foi que tudo isto começou? Qual é a origem dessas três religiões?
O Judaísmo tem uma Escritura Sagrada chamada Antigo Testamento, onde lemos que o Senhor Jeová chamou um homem no passado, tirou-o da terra de Ur dos Caldeus, e fez com ele uma aliança: “... far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção” (Genesis 12.2). Esse fato deve ter acontecido por volta do ano 1921 a.C. Passou-se uma década e Abraão e Sara, sua esposa, continuavam sem filhos. Sara, evocando um costume da terra, convenceu Abraão a ter um filho com sua escrava egípcia Agar, e assim nasceu Ismael, por volta do ano 1910 a.C. O plano de Deus, porém, era outro e cerca de doze anos após, a estéril Sara ficou grávida e Isaque, filho legítimo do casal, nasceu por volta do ano 1896 a.C. Através de Isaque vieram Esaú e Jacó, sendo que o último teve o nome mudado para Israel, dando origem aos “israelitas”, ou seja, seus descendentes através de seus doze filhos. O judaísmo surgiu da aliança de Deus com Abraão. 
O povo escolhido por Deus, abençoado e cuidado por ele, foi rebelde e idólatra ao longo da história. Deus então, “na plenitude dos tempos”, quando tudo estava preparado no mundo, enviou seu filho Jesus Cristo, o Messias, para através dele estabelecer com o homem uma nova aliança. Era o surgimento da Igreja, por volta dos anos 30 d.C., que recebeu a incumbência de propagar a mensagem das boas novas de salvação em Cristo a toda a humanidade. Surgiu então o Cristianismo.
Voltando à Era Patriarcal, quando Isaque foi desmamado, Abraão despediu Agar e seu filho Ismael de sua família e comitiva, segundo imposição de Sara e conforme orientação de Deus, tendo sido mãe e filho abandonados pelo homem, mas preservados com vida e abençoados por Deus. Informa o livro de Gênesis que Ismael “habitou no deserto de Parã e sua mãe o casou com uma mulher da terra do Egito”. Com a separação entre Isaque e Ismael, bem como de seus descendentes, começou a saga entre os árabes e os judeus, a qual existe até hoje. O que aconteceu com Ismael e seus doze filhos não é muito conhecido. O fato é que, em tempos mais modernos, os árabes têm a sua história vinculada à Península Arábica, onde inicialmente se fixaram, em uma região formada por desertos, situação que levava seus habitantes a uma vida nômade, em busca dos oásis presentes ao longo do território. Conhecidos como beduínos, essa parte do povo árabe era caracterizada pela sua religião politeísta e pela criação de animais. Nas regiões litorâneas da Península Arábica, existem hoje centros urbanos e a prática de uma economia agrícola mais complexa. Entre as cidades da região, destacava-se Meca, grande centro comercial e religioso dos árabes e um centro de animismo e idolatria desde um passado distante.
Regularmente, desde épocas remotas, os árabes se deslocavam para a cidade de Meca, a fim de prestar homenagens e sacrifícios às várias divindades invocadas naquele local. O vale da Mina, o monte Ararat, o poço sagrado de Zen-Zen e a Caaba (principal templo sagrado onde era abrigada a Pedra Negra) eram os lugares sagrados mais procurados. A Caaba continua sendo objeto de veneração islâmica, uma relíquia muçulmana, sendo o centro espiritual do mundo islâmico e de todos os atos piedosos, sobretudo as orações, que se dirigem para ela. Uma vez ao ano, milhões de árabes vão em peregrinação a Meca. 
O Islamismo surge com um homem na Arábia chamado Maomé. Nascido em Meca, em 570, Muahammad ben Abdullah ben Abdul Mutlib ben Maximera era da tribo dos Coraixitas. Com 6 anos de idade, Maomé ficou órfão, tendo sido criado pelo tio, tendo se dedicado inicialmente a atividades de pastoreio e comércio. Até cerca de 35 anos de idade, Maomé foi um árabe comum. Visitando a Síria e a Palestina, teve alguns contatos com judeus e cristãos, dos quais teria recebido suas concepções monoteístas. Teve contato também com o paganismo politeísta da região, levando-o a criar um ecletismo religioso. Maomé tinha habilidade comercial, política, militar e legislativa, além da religiosa. Ele casou-se com uma rica viúva chamada Cadija, casamento que lhe proporcionaria uma estabilidade financeira que permitiu a ele um bom desenvolvimento intelectual para assim estruturar o seu sistema religioso. Com Cadija, Maomé teve uma filha, Fátima, tendo sido casado também com outras mulheres. Maomé demonstrava inicialmente descontentamento com as condições sociais e morais existentes entre seu povo. 
Entre os 40 e os 52 anos de idade, ele sentiu-se chamado pelo anjo Gabriel (o mesmo anjo que anunciou o nascimento de Jesus para Maria) a pregar a religião de um Deus absoluto, criador, poderoso e juiz do mundo. Sua mensagem de monoteísmo e juízo futuro e sua denúncia da idolatria e do infanticídio tiveram pouca repercussão em Meca, tendo entrado em contradição com as crenças tradicionais de sua tribo. Aos 50 anos, em 620, segundo o Alcorão, Alá confirmou o seu chamado, levando-o à noite para Jerusalém, para o Domo da Rocha, onde Maomé teria conversado com Jesus, Moisés e Abraão. Aos 52 anos, com apenas um companheiro, ele fugiu de Meca para salvar sua vida, indo para Yatrib (atualmente Medina, "a cidade do profeta"), 370 quilômetros ao norte de Meca. Até os 60 anos de idade, Maomé estabeleceu ali o governo de Alá, implantando todo um sistema religioso, político e social com base nos princípios da nova fé. Lutas surgiram, fortalecendo-o como líder, quando adotou novas práticas na sua política e modo de viver: ele instituiu postura na oração, jejum no Ramadã, atitude quanto aos judeus e poligamia. Tendo tomado a cidade de Meca, estendeu a sua soberania política sobre toda a Arábia. Morreu em Medina em 632, após uma rápida febre, nos braços de Aisha, a esposa favorita do seu harém. Maomé não nomeou seu sucessor, porém deixou uma excelente organização político-religiosa, baseada na doutrina islâmica de seu livro, o Alcorão, que foi publicado em 650. Segundo a tradição muçulmana, após falecer em Medina, o Profeta foi transportado para Jerusalém, de onde ascendeu ao Céu. No lugar da ascensão, os muçulmanos construíram uma mesquita no Domo da Rocha, mantida até hoje. Desde aquela época, os árabes foram-se convertendo ao islamismo, que se expandiu bastante entre os séculos VII e VIII, difundindo a crença por várias regiões do norte da África, da Península Ibérica e algumas partes do mundo oriental.
Tal como o Judaísmo e o Cristianismo, o Islamismo é uma religião monoteísta, adorando a um só Deus. Existem semelhanças e diferenças entre o Alcorão e a Bíblia judaica e cristã, pois Maomé certamente se baseou nas Escrituras Sagradas para criar o seu livro. Segundo o Alcorão relata em 114 capítulos, Adão e Eva foram o primeiro casal muçulmano criado por Deus, mencionando o livro personagens bíblicas como Abraão, Isaque, Jacó e seus filhos, muitos deles apresentados como profetas. Jesus é mencionado como profeta muçulmano não compreendido na sua época. Segundo o Islã, Jesus foi enviado por Deus, porém era inferior a Maomé como profeta. Ele nasceu da virgem Maria e realizou muitos milagres, mas foi protegido da morte por crucificação e não ressuscitou dentre os mortos. Era um muçulmano fiel e seguidor de Alá. 
Com a morte de Maomé, surgiram duas divisões no Islamismo, por divergências na liderança do movimento, as quais são mantidas até hoje: os sunitas e os xiitas. Apesar dessas divisões e de outras surgidas posteriormente, o Islamismo tem crescido muito, abrangendo hoje grande parte da população mundial.
Segundo Alister McGrath, em sua obra Heresia, o Alcorão parece representar os cristãos como adoradores de uma trindade de três pessoas distintas: Deus, Jesus e Maria. O Alcorão ainda identifica os cristãos como entendendo e adorando Jesus como uma figura fisicamente divina, o que equivale, segundo eles, a paganismo, idolatria ou politeísmo. Maomé teve contato com heterodoxias tanto do judaísmo como do cristianismo, as quais ele não conseguiu aceitar. Incorporados lentamente ao remanescente do Império Romano no Ocidente, os bárbaros iniciaram sua participação no Império e na Igreja. Como se deu essa assimilação? Assunto para o próximo segmento.

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