“... será que Deus é
somente Deus dos judeus? Será que não é também Deus dos não judeus?
Claro que é!” (Romanos
3.29)
Jerusalém tem sido,
historicamente, palco de muitos interesses e de muitas batalhas. Nos nossos
dias, judeus, cristãos e muçulmanos lutam pela posse daquele território, bem
como de toda a região do Oriente Médio onde a cidade se insere, numa guerra que
parece não ter fim. Como foi que tudo isto começou? Qual é a origem dessas três
religiões?
O Judaísmo tem uma Escritura
Sagrada chamada Antigo Testamento, onde lemos que o Senhor Jeová chamou um
homem no passado, tirou-o da terra de Ur dos Caldeus, e fez com ele uma
aliança: “...
far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome,
e tu serás uma bênção” (Genesis 12.2). Esse fato deve
ter acontecido por volta do ano 1921 a.C. Passou-se uma década e Abraão e Sara,
sua esposa, continuavam sem filhos. Sara, evocando um costume da terra,
convenceu Abraão a ter um filho com sua escrava egípcia Agar, e assim nasceu
Ismael, por volta do ano 1910 a.C. O plano de Deus, porém, era outro e cerca de
doze anos após, a estéril Sara ficou grávida e Isaque, filho legítimo do casal,
nasceu por volta do ano 1896 a.C. Através de Isaque vieram Esaú e Jacó, sendo
que o último teve o nome mudado para Israel, dando origem aos “israelitas”, ou
seja, seus descendentes através de seus doze filhos. O judaísmo surgiu da
aliança de Deus com Abraão.
O povo escolhido por Deus,
abençoado e cuidado por ele, foi rebelde e idólatra ao longo da história. Deus
então, “na
plenitude dos tempos”, quando tudo estava preparado no mundo, enviou seu
filho Jesus Cristo, o Messias, para através dele estabelecer com o homem uma
nova aliança. Era o surgimento da Igreja, por volta dos anos 30 d.C., que
recebeu a incumbência de propagar a mensagem das boas novas de salvação em
Cristo a toda a humanidade. Surgiu então o Cristianismo.
Voltando à Era Patriarcal,
quando Isaque foi desmamado, Abraão despediu Agar e seu filho Ismael de sua
família e comitiva, segundo imposição de Sara e conforme orientação de Deus,
tendo sido mãe e filho abandonados pelo homem, mas preservados com vida e
abençoados por Deus. Informa o livro de Gênesis que Ismael “habitou no deserto
de Parã e sua mãe o casou com uma mulher da terra do Egito”. Com a
separação entre Isaque e Ismael, bem como de seus descendentes, começou a saga
entre os árabes e os judeus, a qual existe até hoje. O que aconteceu com Ismael
e seus doze filhos não é muito conhecido. O fato é que, em tempos mais
modernos, os árabes têm a sua história vinculada à Península Arábica, onde
inicialmente se fixaram, em uma região formada por desertos, situação que
levava seus habitantes a uma vida nômade, em busca dos oásis presentes ao longo
do território. Conhecidos como beduínos, essa parte do povo árabe era
caracterizada pela sua religião politeísta e pela criação de animais. Nas
regiões litorâneas da Península Arábica, existem hoje centros urbanos e a
prática de uma economia agrícola mais complexa. Entre as cidades da região,
destacava-se Meca, grande centro comercial e religioso dos árabes e um centro
de animismo e idolatria desde um passado distante.
Regularmente, desde épocas
remotas, os árabes se deslocavam para a cidade de Meca, a fim de prestar
homenagens e sacrifícios às várias divindades invocadas naquele local. O vale
da Mina, o monte Ararat, o poço sagrado de Zen-Zen e a Caaba (principal templo
sagrado onde era abrigada a Pedra Negra) eram os lugares sagrados mais
procurados. A Caaba continua sendo objeto de veneração islâmica, uma relíquia
muçulmana, sendo o centro espiritual do mundo islâmico e de todos os atos
piedosos, sobretudo as orações, que se dirigem para ela. Uma vez ao ano,
milhões de árabes vão em peregrinação a Meca.
O Islamismo surge com um homem
na Arábia chamado Maomé. Nascido em Meca, em 570, Muahammad ben Abdullah ben
Abdul Mutlib ben Maximera era da tribo dos Coraixitas. Com 6 anos de idade,
Maomé ficou órfão, tendo sido criado pelo tio, tendo se dedicado inicialmente a
atividades de pastoreio e comércio. Até cerca de 35 anos de idade, Maomé foi um
árabe comum. Visitando a Síria e a Palestina, teve alguns contatos com judeus e
cristãos, dos quais teria recebido suas concepções monoteístas. Teve contato
também com o paganismo politeísta da região, levando-o a criar um ecletismo
religioso. Maomé tinha habilidade comercial, política, militar e legislativa,
além da religiosa. Ele casou-se com uma rica viúva chamada Cadija, casamento
que lhe proporcionaria uma estabilidade financeira que permitiu a ele um bom
desenvolvimento intelectual para assim estruturar o seu sistema religioso. Com
Cadija, Maomé teve uma filha, Fátima, tendo sido casado também com outras
mulheres. Maomé demonstrava inicialmente descontentamento com as condições
sociais e morais existentes entre seu povo.
Entre os 40 e os 52 anos de
idade, ele sentiu-se chamado pelo anjo Gabriel (o mesmo anjo que anunciou o
nascimento de Jesus para Maria) a pregar a religião de um Deus absoluto,
criador, poderoso e juiz do mundo. Sua mensagem de monoteísmo e juízo futuro e
sua denúncia da idolatria e do infanticídio tiveram pouca repercussão em Meca,
tendo entrado em contradição com as crenças tradicionais de sua tribo. Aos 50
anos, em 620, segundo o Alcorão, Alá confirmou o seu chamado, levando-o à noite
para Jerusalém, para o Domo da Rocha, onde Maomé teria conversado com Jesus,
Moisés e Abraão. Aos 52 anos, com apenas um companheiro, ele fugiu de Meca para
salvar sua vida, indo para Yatrib (atualmente Medina, "a cidade do
profeta"), 370 quilômetros ao norte de Meca. Até os 60 anos de idade,
Maomé estabeleceu ali o governo de Alá, implantando todo um sistema religioso,
político e social com base nos princípios da nova fé. Lutas surgiram,
fortalecendo-o como líder, quando adotou novas práticas na sua política e modo
de viver: ele instituiu postura na oração, jejum no Ramadã, atitude quanto aos
judeus e poligamia. Tendo tomado a cidade de Meca, estendeu a sua soberania
política sobre toda a Arábia. Morreu em Medina em 632, após uma rápida febre,
nos braços de Aisha, a esposa favorita do seu harém. Maomé não nomeou seu
sucessor, porém deixou uma excelente organização político-religiosa, baseada na
doutrina islâmica de seu livro, o Alcorão, que foi publicado em 650. Segundo a
tradição muçulmana, após falecer em Medina, o Profeta foi transportado para
Jerusalém, de onde ascendeu ao Céu. No lugar da ascensão, os muçulmanos
construíram uma mesquita no Domo da Rocha, mantida até hoje. Desde aquela
época, os árabes foram-se convertendo ao islamismo, que se expandiu bastante
entre os séculos VII e VIII, difundindo a crença por várias regiões do norte da
África, da Península Ibérica e algumas partes do mundo oriental.
Tal como o Judaísmo e o
Cristianismo, o Islamismo é uma religião monoteísta, adorando a um só
Deus. Existem semelhanças e diferenças entre o Alcorão e a Bíblia judaica
e cristã, pois Maomé certamente se baseou nas Escrituras Sagradas para criar o
seu livro. Segundo o Alcorão relata em 114 capítulos, Adão e Eva foram o
primeiro casal muçulmano criado por Deus, mencionando o livro personagens
bíblicas como Abraão, Isaque, Jacó e seus filhos, muitos deles apresentados
como profetas. Jesus é mencionado como profeta muçulmano não compreendido na
sua época. Segundo o Islã, Jesus foi enviado por Deus, porém era inferior a
Maomé como profeta. Ele nasceu da virgem Maria e realizou muitos milagres, mas
foi protegido da morte por crucificação e não ressuscitou dentre os mortos. Era
um muçulmano fiel e seguidor de Alá.
Com a morte de Maomé, surgiram
duas divisões no Islamismo, por divergências na liderança do movimento, as
quais são mantidas até hoje: os sunitas e os xiitas. Apesar dessas divisões e
de outras surgidas posteriormente, o Islamismo tem crescido muito, abrangendo
hoje grande parte da população mundial.
Segundo Alister McGrath, em sua
obra Heresia,
o Alcorão parece representar os cristãos como adoradores de uma trindade de
três pessoas distintas: Deus, Jesus e Maria. O Alcorão ainda identifica os
cristãos como entendendo e adorando Jesus como uma figura fisicamente divina, o
que equivale, segundo eles, a paganismo, idolatria ou politeísmo. Maomé teve
contato com heterodoxias tanto do judaísmo como do cristianismo, as quais ele
não conseguiu aceitar. Incorporados lentamente ao remanescente do Império
Romano no Ocidente, os bárbaros iniciaram sua participação no Império e na
Igreja. Como se deu essa assimilação? Assunto para o próximo segmento.
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