20 séculos de Igreja Cristã

20 séculos de Igreja Cristã
do século I ao século XXI

terça-feira, 26 de abril de 2016

43. O PENTECOSTALISMO E SUAS ORIGENS

“Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar... e todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”. (Atos 2.1 e 4)

Para os judeus, o Pentecostes (também chamado Festa das Semanas, Festa da Colheita e Festa dos Primeiros Frutos) era o quinquagésimo dia após o sábado da semana da Páscoa, no primeiro dia da semana. O Pentecostes durava sete dias. Judeus viviam fora de Israel pelo menos desde os exílios da Assíria e da Babilônia. Aos poucos, os judeus da diáspora foram dispersos por todo o Império Romano e para fora dele. A lista de quinze lugares mencionados no capítulo 2 de Atos registra a vasta distribuição geográfica dos judeus na época. Quem eram os que estavam presentes no Dia de Pentecostes? Havia “judeus”, tanto judaizantes quanto helenistas; havia também “judeus da diáspora”; “prosélitos” (ou “judeus honorários”, no dizer do teólogo Karl Barth) também ali estavam; e talvez também “tementes a Deus”, que adoravam a Jeová, mesmo sendo gentios. O Pentecostes de Atos aconteceu durante uma peregrinação dos judeus da diáspora, de prosélitos e possivelmente de gentios tementes a Deus a Jerusalém.
Desde o Pentecostes referido em Atos até a virada do século XIX para o século XX, muita coisa aconteceu na história do Cristianismo. Os dons espirituais, ou dons carismáticos, mencionados no Novo Testamento, apresentam antecedentes na história da igreja desde Corinto, nos tempos apostólicos, até os dias de hoje. Havia na igreja de Corinto um grupo de pessoas com inclinações místicas, com ênfase em certas experiências e práticas religiosas, como profecias e línguas. Paulo mesmo registra ter tido algumas experiências espirituais incomuns, mas ele não as torna regra para todos os cristãos.
Após o primeiro século, surgiu no Cristianismo da Ásia Menor o Montanismo (cerca de 170 d.C.), contando inclusive com a participação de Tertuliano (c.160-c.225), um dos Pais da Igreja. Tendo surgido na Frigia, Ásia Menor, o movimento foi fundado por Montano, que dizia ser o porta-voz do Espírito Santo, o qual iria anunciar a volta de Cristo e a descida da Nova Jerusalém. Apelando para visões e profecias, ele e duas profetisas, Priscila e Maximila, levaram os cristãos a uma santificação como preparação para o final dos tempos. O movimento denominado “Nova Profecia” foi declarado herético pala igreja.
Outros grupos com tendências carismáticas surgiram ao longo do tempo, como os cátaros, por exemplo, até mesmo na época dos reformadores protestantes, que conviveram com pessoas e grupos, principalmente  anabatistas, chamados de “entusiastas”, “libertinos”, “fanáticos” e “espiritualistas” e condenados por Lutero, Calvino e outros reformadores.
Os quacres no século XVII, com sua ênfase na “luz interior”, além de outros grupos e dos avivamentos dos séculos XVIII e XIX, que primavam pela emoção no relacionamento com Deus, foram precursores do pentecostalismo moderno; esses movimentos revelavam insatisfações legítimas com a superficialidade religiosa da igreja oficial e desejavam uma espiritualidade mais profunda. Os despertamentos produziram um tipo de cristianismo mais emocional, independente de estruturas e tradições e tendente a experiências com o sagrado. Reuniões nas zonas rurais e urbanas provocaram o surgimento de grande número de novos movimentos religiosos, alguns dentro dos limites do protestantismo histórico e outros distanciados do mesmo, como os “Shakers”, os Mórmons e as Testemunhas de Jeová.
No final do século XIX, o cenário religioso das igrejas da América do Norte passou a sofrer influências do movimento metodista. A origem do movimento pentecostal moderno é identificada por muitos no metodismo wesleyano, em especial na doutrina do “perfeccionismo”, ou “santificação completa”, a qual ensinava que o cristão pode atingir, em algum grau, a perfeição em santidade durante sua vida neste mundo. Wesley descreveu-a como "...aquela disposição habitual da alma que, nos escritos sagrados, é chamada de santidade; e que implica diretamente em ser limpo do pecado...” Houve objeções de lideranças cristãs na época, além de Wesley não ter encontrado como resolver o problema enquanto viveu. A Bíblia possui inúmeras passagens que dão apoio ao perfeccionismo wesleyano, bem como outras que apoiam a ideia de que não é possível ao homem atingir a santidade total neste mundo.
Como Wesley não chegou a definir completamente a doutrina durante sua vida, John Fletcher, seu sucessor, começou a descrever a plena santificação como um “batismo do Espírito Santo” em termos do Pentecostes do Novo Testamento. A partir de Fletcher, criou-se a crença de que existem nas igrejas cristãos batizados com o poder pentecostal do Espírito Santo e outros que ainda não têm esse poder, ou seja, crentes mais ou menos espirituais.
Surgiram então, na segunda metade do século XIX, em vários lugares dos Estados Unidos, os grupos de santidade chamados em inglês de “holiness”. Os pregadores “holiness” enfatizavam a salvação como um processo que começa na conversão e prossegue na santificação. Com o passar do tempo, alguns líderes do movimento passaram a falar no “batismo com o Espírito Santo e com fogo” como sendo uma terceira experiência na vida cristã, distinta da conversão e da santificação. Anterior e concomitantemente a isso, ocorreram outros movimentos e líderes que iam na mesma direção, tanto nos Estados Unidos como em outros países, como no País de Gales, por exemplo.
Em 1900, Charles Fox Parham (1873-1929), um pregador metodista da linha “holiness” do Kansas, fundou uma escola na qual os alunos pudessem buscar maior conhecimento sobre os dons do Espírito Santo. Em dezembro daquele ano, Parham pediu a seus alunos que procurassem nas Escrituras algum texto que indicasse a existência do batismo no Espírito Santo, tendo os alunos concluído que a experiência seria seguida pelo dom de línguas. Uma aluna chamada Agnes Ozman orou para receber o Espírito Santo e "a glória caiu sobre ela", conforme disse Parham. Afirmou ele ainda: "Um halo parecia cercar sua cabeça e seu rosto, e ela começou a falar o idioma chinês. Ela não foi capaz de falar inglês por três dias." A maioria dos alunos relatou experiência similar. Os eventos se sucederam em Kansas City e em outros lugares, mesmo em outros estados por onde Parham passou, até que outra escola bíblica fosse fundada por ele em Houston, no Texas, onde William Seymour se apresentou como aluno.
A partir de William Seymour, o pentecostalismo começou a tomar forma, a chamar a atenção nacionalmente e a se propagar por todo o mundo. A Rua Azusa 312 em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos, tornou-se um marco na história dos movimentos de reavivamento a partir do século XX, assunto que será objeto do próximo segmento.

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