Samuel Wesley foi um ministro da chamada “alta igreja anglicana” que, dado o momento vivido e também a sua atuação, não foi muito apreciado em seu ministério. Em 1709, sua casa paroquial foi incendiada e seu filho John foi salvo por um milagre, como um “tição retirado do fogo”. Seus filhos John e Charles Wesley, dois entre muitos irmãos numa família muito numerosa, foram grandes responsáveis por ministérios pessoais dentro da Igreja Anglicana, os quais seriam fundamentais para o cristianismo a partir do século XVIII.
O movimento metodista teve seu início na Inglaterra, em uma época na qual a sociedade inglesa, como grande parte da Europa, passava por rápidas transformações; milhares de pessoas saíam da zona rural, controlada por grandes proprietários, para procurar trabalho nas novas indústrias das cidades. Era uma época em que o povo vivia na miséria, trabalhando longas horas e só ganhando o mínimo necessário para sua sobrevivência. As pessoas moravam em cortiços, sem as mínimas condições e, quando ficavam doentes, não tinham acesso a médicos. As crianças não iam à escola porque, em geral, trabalhavam para ajudar a seus pais. Havia grande número de viciados, especialmente de alcoólatras. A Igreja Anglicana era a igreja oficial, mas não se preocupava com o sofrimento do povo. Outras pequenas igrejas e grupos religiosos procuravam ajudar, mas quase todas se mantinham na piedade individual, sem qualquer compromisso com a sociedade; elas tentavam salvar o indivíduo sem, entretanto, lutar por uma sociedade mais justa. Nesse contexto de sofrimento popular e de alienação eclesiástica, surge John Wesley.
Nascido em Epworth em 1703, no seio de uma família anglicana de antiga ascendência saxônica, John era filho de Samuel e Susannah Wesley. Após educação formal inicial, Wesley entrou para o Colégio da Igreja de Cristo em Oxford em 1720, concluindo seu curso no devido tempo. Serviu como ministro anglicano em Oxford e também na Geórgia, nos Estados Unidos, tendo retornado a Oxford em 1729. O ano é apontado pelo metodismo como o início do movimento, com o começo do "clube santo", liderado pelos dois irmãos Wesley.
Um episódio que chama a atenção na biografia de Wesley é o de sua conversão. Os morávios, já citados anteriormente, haviam impressionado John Wesley em sua viagem à Geórgia, quando demonstraram confiança em Deus mantendo o louvor durante uma tempestade no mar que apavorava toda a tripulação do navio, inclusive o ministro anglicano que ali viajava. Já em Londres, em 1738, tendo ido, mesmo a contragosto, a um culto promovido pelos morávios, conforme atestam seus escritos, Wesley, que já era ministro anglicano há mais de uma década, diz ter sentido uma experiência nunca antes experimentada e o "coração aquecido" ao ouvir a pregação ocasional, baseada em Romanos. Registrou o próprio Wesley sobre o evento: "Senti que confiava em Cristo, Cristo tão somente para minha salvação..." Charles, seu irmão, também, no domingo anterior, tinha experimentado a conversão.
Já com a atividade dos clubes santos funcionando (com métodos bem definidos que renderiam para o movimento o nome de “metodistas") e tendo experimentado a mudança completa de atitude para com Deus ao se converter e ter confiança na salvação em Cristo, o ministério wesleyano tomou novos rumos. Lembrando que a época no aspecto trabalhista era de operários oprimidos pelas longas horas de árduo trabalho e baixo salário, que não eram levados em conta pela igreja oficial, os metodistas foram os primeiros a pregar a vida em Cristo aos mineiros, inicialmente em Kingswood e Bristol. Era uma época de descoberta de novos métodos para atender à necessidade de pregação do evangelho a grandes massas, sem contar com auditórios adequados para tanto. Assim, os cultos ao ar livre provaram ser um meio para atingir essa nova classe. John Wesley e George Whitefield pregavam aos mineiros ao saírem das minas, fato que levou a outra mudança significativa, qual seja, a formação de novos pregadores entre os mineiros, mesmo sem formação teológica, para atender a demanda por novos obreiros. O ministério de John Wesley sempre teve estreita ligação com o serviço ao povo e à ação social, buscando soluções para tantos problemas ingleses da época. Consta que a última carta que Wesley escreveu já no fim da vida foi endereçada a William Wilberforce, líder que lutava no parlamento inglês por melhores condições para com os prisioneiros e contra a escravidão.
Wesley nunca teve a intenção que o metodismo passasse a ser uma nova igreja, mas via sua atuação apenas como um movimento dentro da Igreja Anglicana, da qual nunca saiu. Ele se referia a seus seguidores como "o povo chamado metodista". Aliás, é curiosa a data de organização da Igreja Metodista como independente da Anglicana, pois o fato aconteceu primeiramente nos Estados Unidos e apenas anos depois, após a morte de Wesley, na Inglaterra. Tendo surgido em fins de 1739, a "Sociedade Metodista" começou a ser implantada no Novo Mundo vinte anos depois, começando por Antígua, no Caribe, atingindo posteriormente as 13 colônias norte-americanas. Quando Wesley começou a enviar obreiros para as colônias inglesas na América, já estava bem adiantado o movimento de independência, que se tornou guerra partir de 1775. Nos oito anos de guerra, todos os missionários enviados por Wesley voltaram, exceto Francis Asbury, o qual se tornou um dos principais líderes durante o conflito. O problema político criado pela guerra obrigou a separação do metodismo, pois, inserida no contexto anglicano, a Igreja da Inglaterra passou a ser vista como a “igreja do inimigo”, dos quais os norte-americanos queriam ser independentes. O próprio Wesley, que antes não aprovara a revolução, passou a dar apoio à nova situação, preparando para a nova igreja tanto uma liturgia baseada no Livro de Oração Comum como um livro de disciplina. Ele ainda ordenou dois pregadores como presbíteros e Thomas Coke como bispo para os metodistas na América. Francis Asbury também foi nomeado bispo. Por volta do Natal de 1784, os pregadores se reuniram e, sob a direção de Coke, fundaram a Igreja Metodista Episcopal. A partir da independência dos Estados Unidos, a própria Igreja Anglicana passou a ser chamada de Igreja Episcopal Americana. Em 1791, John Wesley, o fundador do movimento metodista, morreu anglicano, sem nunca ter pertencido à Igreja Metodista.
O Metodismo tem sua missão voltada para o povo: escolas, orfanatos, ambulatórios, fundos de empréstimo, centro de artesanato e outras são atividades sociais da Igreja. As ênfases herdadas de Wesley são a santificação, a perfeição, missões, além das obras sociais já citadas. A santificação, culminando na perfeição, foi uma marca de Wesley e da Igreja Metodista que seria revivida no século XX, com o surgimento do pentecostalismo.
As missões protestantes, das quais o metodismo também participou, têm sua história contada no próximo segmento.
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