20 séculos de Igreja Cristã

20 séculos de Igreja Cristã
do século I ao século XXI

sábado, 12 de março de 2016

33. EXPANSÃO DO CRISTIANISMO NAS AMÉRICAS CENTRAL, DO SUL E NO CANADÁ

“Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”. (1 João 4.1)

Para que possamos entender  os ciclos missionários nas Américas, foram desenvolvidos 16 ciclos missionários a partir de Colombo; 8 ciclos iniciais foram católicos: 1. No Caribe, com Bartolomeu de las Casas; 2. no México; 3. no atual estado americano da Califórnia na América do Norte; 4. na América Central; 5. no Peru; 6. em Nova Granada; 7. no Chile; 8. no Rio da Prata. A partir de 1500, temos os ciclos missionários católicos portugueses no Brasil, catalogados como: 9. litorâneo; 10. sertanejo; 11. paulista; 12. mineiro; 13. amazônico. Ainda no século XVI, seguem os ciclos protestantes de holandeses com o nº 14, no Brasil, Suriname e Ilhas do Caribe. Com a França, tivemos o ciclo 15 no Canadá (1608), no Brasil (1555-1560), no Caribe, no Haiti, em Guadalupe, na Martinica e na Guiana Francesa. A Inglaterra representa o ciclo 16, com o Mayflower, tendo atingido os ingleses também posteriormente o Canadá e a Jamaica (1655). No fascículo anterior, abordamos exatamente o último ciclo missionário, o mais tardio de todos.
Na verdade, Portugal e Espanha pareciam estar mais bem preparados para as navegações transoceânicas, iniciando sua exploração a partir do começo do século XVI. Após a conquista de Granada e a expulsão dos mouros da Península Ibérica, no final do século XV, os “reis católicos” Fernando e Isabel promoveram, como o aval de Roma, uma reforma no catolicismo espanhol. Aliás, tinha sido o casal real que patrocinara a viagem de Colombo no descobrimento do Novo Mundo. Por essa razão, a implantação e disseminação do catolicismo por grande parte da América começou como decorrência da unificação do Reino de Espanha. Ao se casarem, Isabel de Castela e Fernando de Aragão encontraram na Espanha unificada uma igreja católica com grande necessidade de reforma. Um alto clero dedicado muito mais a práticas belicosas do que à igreja foi um dos problemas enfrentados. O frade franciscano Francisco Ximenes de Cisneros, nomeado arcebispo pelo Papa, foi o apoio eclesiástico que Isabel usou para promover mudanças internas na igreja. A Universidade de Alcalá, a Poliglota Complutense e outras realizações foram resultados da atuação dos reformadores, além de melhorias disciplinares dos conventos e no procedimento do clero.
Portugal também se organizava como um reino importante, principalmente na arte de navegação. Oito anos após Colombo, Pedro Álvares Cabral descobriu e tomou posse de terras, no continente que se chamaria América, em nome da coroa portuguesa.
Como nas diferentes regiões da América habitavam povos de etnia e costumes desconhecidos até então, tropas militares foram enviadas para lá por Portugal e Espanha para que posteriormente chegassem as ordens religiosas. Inicialmente, a Igreja não nomeou índios para as ordens religiosas, acreditando a maioria dos frades missionários não terem os selvagens aptidão para o sacerdócio católico, havendo até os que discutiam terem eles ou não uma alma. Mais tarde, no século XVIII, um grupo de índios e mestiços sacerdotes foram designados para dioceses como um “clero de segunda classe”.
A inquisição também foi uma reação da Igreja para tentar corrigir falhas anteriores do sistema evangelizador na colônia. Foram impostas medidas contra as práticas idólatras presentes na sociedade colonial, como aprisionamento, destruição física de todo símbolo considerado idólatra e duros castigos aos chamados feiticeiros. A medida também tinha por objetivo inibir as práticas protestantes e judaicas, que acabavam dificultando a cristianização dos nativos. Muitos dos judeus expulsos da Espanha na criação do Estado espanhol se refugiaram em Portugal; com a colonização portuguesa na América, os judeus acabaram vindo para o Brasil, daqui se espalhando para as colônias espanholas.
A partir da consolidação da Igreja nas colônias portuguesa e espanhola, a ordem eclesiástica começou então um movimento que se desenvolveu em três momentos, visando a abolir a adoração “falsa” dos índios aos seus ídolos. Num primeiro momento, a religião nativa, baseada na veneração de imagens de seus deuses nativos feitos, por vezes, de metais preciosos, foi combatida em um movimento iconoclasta de destruição das imagens dos deuses indígenas, por elas estarem ligadas a toda uma ideologia que não condizia com a crença cristã e não ser possível convertê-las. Os metais preciosos despertaram interesses econômicos, com o aproveitamento do ouro das imagens destruídas. Num segundo momento, com a destruição dessas representações, a Igreja passou a adotar medidas catequéticas através de imagens cristãs, substituindo-se as representações de deuses pagãos por imagens de santos e santas, consideradas pelo catolicismo como as “verdadeiras”. Apesar da postura inicial de rejeição e iconoclastia, num terceiro momento, com o passar do tempo, plantas, colares, emblemas ritualistas ou mesmo outros utensílios que faziam partes de rituais religiosos dos índios acabaram sendo introduzidos na liturgia católica. Através desses objetos, cria a liderança da igreja ser possível uma maior compreensão da presença divina pelo nativo, sendo adaptados alguns rituais ao culto cristão. Foi um sincretismo religioso, que aonteceu no período colonial e que ainda se faz muito presente na sociedade latino-americana. Algo semelhante acabaria acontecendo na aculturação dos milhões de negros africanos trazidos como escravos para a América, num sincretismo religioso relacionando a umbanda, o candomblé e outros rituais com o catolicismo.
A história da expansão cristã pelo Canadá precisa ser contada à parte pelas características próprias que possui. No Canadá, a primeira igreja a se estabelecer foi a católica romana, tendo a missa sido rezada pela primeira vez em 1534. A colonização francesa começou na Nova França, com a fundação da cidade de Quebec em 1608. Franciscanos, jesuítas e outras ordens religiosas fundaram escolas, estabeleceram hospitais e abriram seminários. Em 1759, quando os britânicos prevaleceram como governo, a igreja católica continuou presente e em crescimento. Anos após, com a restauração dos direitos para os católicos na Grã-Bretanha estendendo-se para a Comunidade, a igreja pode se expandir para o Canadá Britânico, atingindo cidades como Kingston, Toronto, Ottawa, além de outras, numa expansão do Atlântico ao Pacífico. O Canadá de hoje é um país bilíngue, com o inglês e o francês reconhecidos como línguas oficiais. De acordo com estatísticas do governo, 83% da população se considera cristã, com mais de trinta grupos diferentes atuando no país. As maiores igrejas incluem Católica, Igreja Unida, Anglicana, Presbiteriana, Luterana, Batista, Católica Ortodoxa e Pentecostal.
A passagem da Idade Média para a Moderna na Europa Ocidental, com reflexos na América, foi traumática para a Igreja como um todo, resultando em um esfriamento e racionalização de tudo, inclusive no entendimento teológico de Deus, assunto a ser discutido no próximo fascículo. 

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