20 séculos de Igreja Cristã

20 séculos de Igreja Cristã
do século I ao século XXI

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

27. TRENTO E A CONTRA-REFORMA

“Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (João 17.20-21)


Trento é uma cidade encravada entre montanhas no norte da Itália, com pouco mais de cem mil habitantes atualmente. No século XVI, a cidade – bem menor na época – foi o local escolhido para o Concílio que discutiu os problemas gerados pela Reforma Protestante, bem como as medidas a serem tomadas para amenizar o cisma havido no Cristianismo, com prejuízos junto ao Catolicismo Romano.
Desde o seu início, o Catolicismo imperou, por cerca de doze séculos, como representante oficial e único do Cristianismo, sem admitir grandes oposições ou contestações. Embora líderes e movimentos tenham surgido ao longo do tempo opondo-se às heterodoxias desenvolvidas pelo Catolicismo, Roma sempre combateu as heresias e ideias contrárias, em geral aniquilando os opositores. Começando com Constantino, o Catolicismo Romano não teve nem admitiu concorrência como igreja até o século XV, mesclando os poderes eclesiástico e político. As poucas divisões havidas foram o Catolicismo Ortodoxo – que rompeu com Roma oficialmente a partir do século XII, em 1054, além das Igrejas Nestorianas e a Igreja Ortodoxa Siríaca – com grupos no Egito, Etiópia, Síria e Armênia. Com a advento, porém, da Reforma Protestante, pela primeira vez o papado teve que enfrentar uma oposição que crescia e se organizava – embora em diversas frentes – ameaçando a própria sobrevivência da Igreja.
Assim sendo, cerca de trinta anos após o evento inicial de Wittenberg, a igreja convocou o Concílio de Trento, que se reuniu entre 1545 e 1563, constituindo-se naquilo que tanto é chamado de Contra-Reforma como de Reforma Católica. A Contra-Reforma constituiu-se na reorganização da igreja no combate aos dogmas e liturgias que haviam sido mudados pelos protestantes; a Reforma Católica aconteceu com a preocupação de corrigir problemas internos do catolicismo, existentes de longa data. Como sinal da reação católica, surgiram novas ordens religiosas, entre elas a “Sociedade de Jesus”, os Jesuítas, fundada por Inácio de Loiola (1491-1556), importante pelo voto de submissão incondicional ao papa, além de sua atuação nas áreas de missões, educação e combate à heresia.
O diagnóstico inicial da situação da igreja fornecido ao papa antes do Concílio de Trento mostrava que o clero se tornara por demais mundano, com muitos sacerdotes alcançando suas posições por meio de suborno, tornando as ordens monásticas imorais. Destacava ainda o documento os abusos na venda de indulgências e o grande número de prostitutas em Roma, a suposta “cidade santa”, muitas vezes a serviço do clero da igreja. Em se tratando das mudanças e correções de questões relacionadas à moralidade, a Igreja Católica seguiu o conselho da comissão, restringindo as indulgências e sendo o clero exortado a "evitar até mesmo as menores falhas". No aspecto doutrinário, o concilio reafirmou as posições católicas, declarando a existência de sete sacramentos necessários para a salvação; mantiveram-se a transubstanciação, a missa em latim, restrição para que somente a igreja interpretasse adequadamente as Escrituras (sendo a Vulgata Latina a única versão permitida nas leituras públicas e nos textos doutrinários). Entre as decisões tomadas em Trento, figuram com destaque a rejeição explicita às doutrinas protestantes, a oficialização da teologia de Tomás de Aquino e a aceitação dos livros apócrifos, ou deuterocanônicos. A Igreja cuidou ainda da publicação do Index Librorum Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos) e do estabelecimento da Inquisição. Embora o Catolicismo tivesse mudado o que os protestantes consideravam questões de menor importância, nada foi reformulado quanto à crença de que tanto a tradição quanto as Escrituras eram válidas para definir os atos da igreja. Diferenças dogmáticas não foram cogitadas.
As reformas do Concilio de Trento separaram ainda mais o Catolicismo do Protestantismo, frustrando a expectativa de reformadores que viam o rompimento da unidade da Igreja como temporário; Trento fechou as portas para que qualquer tentativa de reconciliação acontecesse.
Como estrutura eclesiástica mais bem organizada naquela época, a fé católica romana foi propagada por franciscanos, dominicanos e jesuítas, que realizaram uma grande obra missionária no Oriente e nas Américas. Enquanto isso, as denominações protestantes, ainda incipientes, procuravam se organizar internamente, sendo que as missões evangelísticas do protestantismo ainda levariam cerca de dois séculos para serem iniciadas.
Nos reinos do Sacro Império Romano Germânico, os conflitos entre católicos e protestantes duraram décadas, atingindo o seu apogeu na Guerra dos Trinta Anos, que envolveu metade do continente europeu. Essa guerra terminou com a Paz de Westfalia, em 1648, definindo as fronteiras político-religiosas da Europa e marcando o final do período de implantação da Reforma.
De Trento até hoje, algumas mudanças têm ocorrido no catolicismo, sendo que a mais significativa delas aconteceu no século XX, por ocasião do Concílio Vaticano II (1962-1965), sob a direção papal de João XXIII, quando houve uma tentativa de adequação aos novos tempos por parte do Catolicismo. Entre as adequações, ou “aggiornamento” (atualização em italiano), a introdução da nova liturgia na missa, na qual o sacerdote passou a aproximar-se do povo e a falar na linguagem dele, em vez de usar o latim, talvez tenha sido a que mais contribuiu para ganhar adeptos ao catolicismo.
Comparando Trento e o Vaticano II, afirma o historiador Shelley: “A imagem tradicional da Igreja de Roma criada pelo Concílio de Trento era de uma fortaleza inexpugnável sob o ataque das forças do secularismo, modernismo e individualismo. (...) O Concílio Vaticano II via a igreja como um ‘povo peregrino’ sob a direção de Deus, movendo-se através do mundo juntamente com outros peregrinos, cuidando dos fracos e dos cansados”. Pela primeira vez o catolicismo se referia a seus "irmãos afastados protestantes", companheiros da peregrinação, vistos até então como hereges a partir de Trento.  
Quinhentos anos após o movimento que dividiu católicos e protestantes, a Igreja Cristã prossegue no século XXI, buscando unidade na diversidade que se criou. “Sempre que vemos a palavra de Deus pregada e ouvida genuinamente e os sacramentos administrados de acordo com a instituição de Cristo, não há dúvida de que igreja de Deus existe; pois a promessa dele não pode falhar: onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles." Esta era a visão de João Calvino sobre a unidade da Igreja, declaração que ainda faz mito sentido nos dias de hoje.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

26. O PURITANISMO

“...como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver.” (1 Pedro 1.15)


O Puritanismo foi um movimento de reforma religiosa surgido dentro da Igreja Anglicana na segunda metade do século XVI. Tinha como ênfase principal a preocupação com a pureza da igreja, do indivíduo e da sociedade e suas raízes podem ser encontradas no início da reforma inglesa. O nome “puritanos” foi dado pelos adversários do movimento, iniciado quando Henrique VIII repudiou a autoridade papal. Apesar da reforma iniciada pelo rei, a Igreja da Inglaterra manteve muito da liturgia e do ritual do catolicismo e as lentas mudanças deixavam muito a desejar.
Como a Henrique VIII não interessavam grandes reformas eclesiásticas, ao morrer, o rei deixou uma igreja que pouco diferia da católica, a não ser pelo fato de não obedecer mais a Roma. No reinado de Eduardo VI (1547-1553), com o apoio de dois regentes (já que o rei era menor de idade), outras mudanças aconteceram e foi introduzido o primeiro Livro de Orações em inglês. Sob Maria Tudor (1553-1558), porém, parte dos clérigos e dos protestantes foi executada e um grupo maior fugiu para o continente europeu, quando a rainha quis promover uma volta ao catolicismo romano. Em ambos os reinados, porém, o movimento puritano continuou a crescer.
O puritanismo se levantava contra a permanência de vestígios de tradição católica nas doutrinas e na liturgia, começando pelas vestes da autoridade episcopal. Além das vestes litúrgicas, os puritanos se opunham à guarda dos dias santos, à confissão de pecados ao sacerdote, ao sinal da cruz, à presença de padrinhos no batismo, ao ajoelhar-se na hora da ceia, além de outros elementos que faziam parte do que chamavam de “trapos do papismo”. Com o tempo, formaram-se três grupos dentro do movimento puritano: os episcopais, os presbiterianos e os congregacionais. Os puritanos episcopais não pretendiam sair da Igreja Anglicana, ambicionando uma abrangente reforma interna, que nunca aconteceu. Os presbiterianos, influenciados por Calvino, queriam na Inglaterra uma igreja com governo presbiteriano, semelhante à que se organizara na Escócia. Os puritanos congregacionais buscavam um governo mais democrático na igreja, no qual a congregação resolvesse seus próprios problemas, numa postura mais radical de influência anabatista. Robert Browne, teórico do último grupo, sustentava que os crentes deviam se unir a Cristo e uns aos outros por um pacto voluntário; que os ministros deviam ser escolhidos pelos membros; e que nenhuma congregação devia ter autoridade sobre a outra; opunha-se ele, portanto, ao relacionamento da Igreja com o Estado.
No campo religioso, com a morte de Maria e a coroação de Elizabeth, o grupo que fugira para o continente europeu voltou para a Inglaterra, após tomar contato e sofrer influência dos reformadores e de suas ideias, principalmente na Alemanha e na Suíça. Durante o reinado de Elizabeth I, uma aparente paz prevaleceu na vida religiosa inglesa, mas sob a superfície continuava uma luta sobre o tipo desejado de igreja. No aspecto econômico e social, a Inglaterra começava a era da industrialização, com grandes deslocamentos de pessoas do campo para a cidade, em um clima de instabilidade. Como as reformas introduzidas pela rainha tendiam a permanecer entre o catolicismo e o protestantismo, na chamada “onda média”, começaram a surgir entre os puritanos os separatistas, que formaram congregações independentes, sob a liderança de algum ministro anglicano, graduado em teologia, mas com tendências reformadoras. Como a igreja oficial da Inglaterra era a Anglicana, pressões e perseguições começaram a acontecer sobre os dissidentes, fato que levou muitos deles a fugirem da Inglaterra, buscando refúgio principalmente na Holanda. Uma dessas congregações formou-se na localidade de Scrooby, em Yorkshire, sob a liderança de John Robinson, a qual integraria a tripulação do navio Mayflower em 1620.
Os acontecimentos históricos envolvendo os puritanos se precipitaram. Em 1593, no reinado de Elisabeth I, foi aprovado o “Ato contra os Puritanos”. James I (1603-1625), sucessor dos Tudors e iniciador da dinastia dos Stuarts na Inglaterra, havia convivido com o presbiterianismo na Escócia, fato que encheu de esperanças os puritanos. Eles apresentaram ao rei a Petição Milenária, que foi totalmente rejeitada na Conferência de Hampton Court (1604), exceto a autorização para impressão de uma versão autorizada da Bíblia, a “King James version”. James afirmou que, sem bispos, não há rei.
A política de repressão contra os puritanos foi mantida no reinado de Carlos I (1625-1649), o que levou um grande grupo não-separatista a ir para Massachusetts na década de 1630. No final do seu reinado, o soberano entrou em guerra contra os presbiterianos escoceses e os puritanos ingleses. Estes eram maioria no Parlamento e convocaram a Assembleia de Westminster (1643-49), a qual elaborou importantes documentos da fé reformada. Oliver Cromwell foi o líder puritano das forças parlamentares que derrotaram o rei Carlos I, tendo se tornado “Lorde Protetor” da Inglaterra. Durante o Protetorado (1649-1658), a Igreja da Inglaterra foi inicialmente presbiteriana e depois congregacional. Todavia, as rivalidades religiosas levaram ao restabelecimento da monarquia sob Carlos II (1660-1685), que consolidou a Igreja Anglicana como episcopal e expulsou cerca mais de mil ministros puritanos da Igreja da Inglaterra em 1662, fato que marcou o fim do movimento puritano no país.
O pastor batista John Bunyan (1628-1688) foi um dos exemplos mais expressivos do puritanismo inglês na literatura. Sua obra mais importante, “O Peregrino”, de 1678, é o livro considerado como o mais vendido de todos os tempos abaixo da Bíblia. A obra é uma alegoria sobre a vida cristã, contando a história de Cristão, um peregrino atormentado pelo desejo de se ver livre do fardo pesado que carrega nas costas. Cristão segue sua jornada por um caminho estreito, indicado por Evangelista, partindo da Cidade da Destruição rumo à Cidade Celestial. No decorrer da aventura, ele se encontra com personagens de nomes alegóricos, tais como Hipocrisia, Boa-Vontade, Gigante Desespero, Adulação, Malícia, Vigilância e outros. Passa também por lugares sombrios, como o Desfiladeiro do Desespero, o Castelo das Dúvidas, o Pântano da Desconfiança, a Feira das Vaidades e o Rio da Morte. Durante a peregrinação, surgem várias adversidades e sofrimentos. Apesar de tudo, o protagonista mantém-se sempre sóbrio, encontrando auxílio em Fiel e em Esperançoso, companheiros de viagem.
“O Peregrino” simboliza a vida do cristão neste mundo, buscando não conformação, mas transformação do seu entendimento, no processo de santificação rumo à morada eterna com Deus. Representa na ficção muito do pensamento dos puritanos, que praticamente foram extintos na Inglaterra, mas que imigraram em grande numero para a Nova Inglaterra, na busca de melhores condições de vida material e espiritual, assunto a ser abordado oportunamente.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

25. HENRIQUE VIII E O ANGLICANISMO

“Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” (Salmo 51.17)

Não se sabe exatamente quando o cristianismo se estabeleceu nas Ilhas Britânicas, mas é certo que já existia antes do século III, possivelmente a partir de missionários fugidos das perseguições às quais os primeiros cristãos estavam sujeitos. Os primeiros registros da presença cristã nas Ilhas Britânicas foram feitos por Tertuliano, no ano de 208 d.C.; também no Concílio de Arles, realizado em 314 d.C. na França, há registro da presença de três bispos de uma Igreja que existia na Inglaterra sem ligação com a Igreja Romana.
A primeira Igreja Cristã organizada nas Ilhas Britânicas é de origem celta, povo que já habitava a região antes mesmo da invasão anglo-saxônica. Resistindo ao paganismo dos invasores, a Igreja Celta conseguiu manter um cristianismo independente, com organização monástica e tribal, sem relação com a Igreja de Roma e demonstrando alguns hábitos e costumes orientais.
No ano de 595 d.C., o papa Gregório Magno mandou o monge Agostinho, prior do Convento de Santo André, na Sicília, liderando um grupo de monges beneditinos, para converter a Inglaterra ao catolicismo romano. Agostinho foi o primeiro arcebispo da Cantuária (em inglês, Canterbury), sé primaz de referência até mesmo para a atual Igreja Anglicana. Com o tempo, boa parte dos costumes da Igreja Celta assimilou a forma romana do cristianismo implantada por Agostinho nas Ilhas Britânicas.
No século XIV, surgiram João Wycliffe e os seus seguidores, os lolardos, contemporâneos ao “Grande Cisma” da Igreja Católica, marcando uma tradição de profundo apreço pelas Escrituras e questionamento de dogmas e práticas da igreja medieval com base nas mesmas. O assim chamado “pré-reformador” patrocinou a publicação da primeira Bíblia em inglês, que se completou em 1384. Wycliffe afirmava ainda a suprema autoridade das Escrituras, definindo a igreja verdadeira como o conjunto dos eleitos e questionando dogmas católicos, como o papado e a transubstanciação. Mesmo na época da Reforma, ainda havia indícios da presença dos lolardos na Inglaterra.
Ligada à Irlanda, existe ainda a história de Patrício, em cuja vida é difícil separar-se a realidade do mito. Nascido num povoado na Inglaterra em 377 em uma família religiosa e influente, Patrício foi levado de sua casa para viver como escravo na Irlanda. Assim que chegou ao novo país, começou a pastorear ovelhas, tornando-se exímio pastor. Orando constantemente por sua libertação, Patrício, depois de seis anos de escravidão, fugiu para a Gália, entrando para um mosteiro. Sagrado bispo em 432, Patrício pediu para ser enviado como missionário para converter o povo irlandês ao cristianismo. Muitas fadigas, sacrifícios e sofrimentos de toda espécie resultaram em um grande número de conversões. Após trinta anos de pregação, existiam na Irlanda 365 igrejas, além de conventos e escolas. Patrício morreu aos 84 de idade, 34 dos quais como missionário. 17 de março, data da suposta morte de Patrício, é o Dia de São Patrício, comemorado por irlandeses, ingleses e seus descendentes na América, sendo a cor verde e o trevo de três folhas as marcas características do evento.
A história da atual Igreja Anglicana começa com o rei Henrique VIII (1509-1547), embora ele não fosse um reformador, mas alguém levado por motivos mais político-conjugais do que religiosos. Casado com Catarina de Aragão, filha de Isabel e Fernando (os “reis católicos” da Espanha), o rei ansiava por um herdeiro masculino, que ocupasse o trono inglês com sua morte. Com Catarina, Henrique tinha tido apenas uma filha, Maria, e o rei pleiteou junto ao papa a anulação do casamento. Diante da negativa papal, Henrique, até então um católico devoto (a ponto de ter recebido do papa o título de Fidei Defensor, ou "Defensor da Fé", por sua ação contra a reforma protestante em 1521), promoveu a separação entre a Igreja da Inglaterra e a Igreja Católica Romana. A cisão se deu através do Ato de Supremacia, de 1534, que inclusive confiscou todas as propriedades que a Igreja Católica possuía na Inglaterra. Casado em segundas núpcias com Ana Bolena, Henrique VIII somente teve um descendente masculino com a terceira esposa, tendo chegado ao sexto casamento. Edward VI, o descendente masculino, que era protestante, morreu adolescente, com apenas 15 anos.
Com Henrique VIII, as mudanças na igreja inglesa não foram muito abrangentes, começando pela substituição do papa pelo rei como cabeça da igreja, incluindo a eliminação da transubstanciação, da comunhão em uma só espécie, do celibato clerical, dos votos de castidade para leigos, das missas particulares, da confissão auricular, além de outras. Não foram mudados dogmas maiores.
Com Eduardo VI (1547-1553), a influência dos partidários de uma reforma profunda da igreja inglesa se tornou mais forte e outras mudanças aconteceram. Porém, com a morte do rei, assumiu o trono sua irmã Maria Tudor, filha de Catarina de Aragão, que era de linhagem familiar católica, como já se viu. Maria assinou o ato de reconciliação da Inglaterra com Roma, anulando as mudanças de seu pai e irmão, porém teve um reinado curto.
A criação da linha anglicana não transformou a Inglaterra num país verdadeiramente protestante, pois a Igreja permaneceu católica quanto à doutrina. Foi somente no reinado de  Elisabeth I que a Igreja se firmaria no caminho da “via média”, entre o catolicismo e o protestantismo, característica que mantém até os dias de hoje.

Durante a implantação inicial do Anglicanismo,  surgiu nas Ilhas Britânicas um grupo que, por convicções próprias e influência de circunstâncias históricas, começou a ansiar por mais reformas, querendo ver a Igreja purificada de todas as heterodoxias implantadas pelo Catolicismo ao longo dos séculos; trata-se dos “puritanos”, assunto que será discutido no próximo segmento. 

24. GENEBRA E O CALVINISMO

“Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. ” (Mateus 28.20)

O envolvimento de Calvino com o protestantismo foi assim:  "William Farel me deteve em Genebra, não tanto por conselho e exortação, mas por uma terrível imprecação, que eu senti como se Deus tivesse do céu colocado sua poderosa mão sobre mim para me prender.” Este foi o registro deixado por João Calvino, mostrando como tinha sido seu encontro com  em Genebra no episódio central de sua vida e atuação dentro da Reforma Protestante. Vamos conhecer lugar e personagens.
William Farel (1489–1565), nascido nos Alpes Franceses, foi o evangelista que fundou a Igreja Reformada em Neuchâtel, em Berna e em Genebra, na Suíça, cidade onde sua vida se cruzou com a de Calvino.
Nascido em Noyon, nordeste da França, em 1509, João Calvino (1509-1564) formou-se em latim, humanidades, teologia e fez também estudos jurídicos. Seu principal interesse era pela literatura clássica. Convertido à fé evangélica por volta de 1533, fugiu de Paris por perseguição aos protestantes.
Farel era cerca de 20 anos mais velho que Calvino, tinha um temperamento difícil e era muito contundente como pregador. Calvino era mais calmo, equilibrado ao expor suas ideias e tornou-se um líder de referência, tanto na área intelectual quanto na espiritual, exercendo uma importante influência no processo da Reforma como seu primeiro teólogo de maior fôlego.
Naquele início de reforma eclesiástica, num clima de incertezas, muitas pessoas ansiavam por estabilidade e se perguntavam se alguém podia produzir a ordem que desejavam, em meio a um caos teológico. Uma resposta começou a surgir em Genebra. Conforme já se viu, a Suíça era inicialmente um país formado por divisões políticas chamadas cantões (a chamada Confederação Helvética), que se uniram em defesa mútua contra os inimigos. Até meados da década de 1530, Genebra tinha sido uma cidade fortemente católica, abrigando sede de bispado durante praticamente um milênio. Foi então que, buscando a independência, os cidadãos da pequena república decidiram viver de acordo com o evangelho e a Palavra de Deus, optando pelo protestantismo. Genebra foi a primeira tentativa de criação de uma cidade-estado totalmente cristã, sob a liderança de Farel e Calvino.
No entanto, segundo Shelley, “o programa de discipulado moral dentro do protestantismo ia um pouco além daquilo que as autoridades religiosas da cidade haviam negociado”. Após conflitos com liderança e cidadãos, Calvino e Farel foram obrigados a sair de Genebra; Calvino seguiu então para Estrasburgo, onde passou três anos proveitosos em companhia do reformador Martin Bucer. Esse convívio foi importante em vários aspectos, principalmente no amadurecimento de suas ideias acerca da disciplina eclesiástica. Além dessa influência, Calvino casou-se com a viúva Idelette de Bure. Nesse meio tempo, houve mudanças políticas em Genebra e os líderes contrários a Farel e Calvino foram afastados. Os novos magistrados convidaram-nos para regressar e dar continuidade ao seu trabalho de reforma.
Nessa retomada de atividades, Calvino elaborou para a comunidade religiosa as ordenanças eclesiásticas, que previam a existência de quatro classes de oficiais na igreja reformada local: pastores, doutores, presbíteros e diáconos. Pastores e doutores constituíam a Venerável Companhia; os doze presbíteros eram leigos encarregados de manter a disciplina na comunidade, eleitos anualmente pelos magistrados civis. Os pastores e os presbíteros se reuniam semanalmente no Consistório, um tribunal eclesiástico encarregado da disciplina em Genebra. Seu principal objetivo era a supervisão sistemática da vida moral e religiosa da população.
Muitos conflitos e oposições foram ali enfrentados por Calvino, principalmente o triste episódio envolvendo Serveto. Miguel Serveto (1511-1553) era franciscano e nutria dúvidas quanto à doutrina da Trindade, considerando ele essa doutrina um obstáculo à conversão de muçulmanos e judeus. Serveto correspondeu-se algum tempo com Calvino, numa comunicação pouco amistosa e muito polêmica. Aprisionado pela Inquisição Católica e condenado à fogueira, Serveto conseguiu fugir e, quatro meses mais tarde, foi reconhecido quando participava do culto dominical em Genebra, tendo sido denunciado às autoridades e preso por heresia. Após a condenação, Calvino e Farel ainda tentaram sem êxito fazer com que Serveto repudiasse os seus erros. Na execução, suas últimas palavras foram interpretadas como uma confirmação da sua heresia cristológica. Ele teria dito: “Jesus, filho do eterno Deus, tem compaixão de mim!”; o que seus acusadores esperavam ouvir era “Jesus, eterno filho de Deus...” Serveto não aceitava a eternidade da existência de Cristo. Após muitos conflitos e até o final de sua vida, Calvino passou a ter uma situação muito mais confortável e maior liberdade para implementar a sua visão para a igreja e a sociedade de Genebra.
Genebra foi o refúgio para perseguidos do protestantismo, exemplo de comunidade cristã disciplinada, além de um centro de treinamento ministerial. Segundo John Knox, foi “a mais perfeita escola de Cristo jamais vista na terra desde os tempos dos apóstolos. ” A Academia de Genebra, embrião da futura universidade, foi inaugurada em 1559. Nesse mesmo ano, Calvino publicou a última edição das Institutas. O reformador faleceu aos 55 anos em 1564.
Não apenas por causa do episódio de Servetus, mas em virtude de sua atuação convicta em um momento tumultuado da história da Igreja, a vida e o temperamento de Calvino têm sido criticados, por vezes duramente. Sobre o assunto, Alderi Souza de Matos afirma: “João Calvino foi apegado à família, teve um casamento feliz e soube cultivar amizades profundas e duradouras; temperamento reconhecidamente difícil, revelou atitudes conciliadoras em relação a outros líderes protestantes". As ideias calvinistas de “estímulo ao trabalho”, “condenação do desperdício” e “legitimidade do lucro”, por exemplo, muito influenciaram o modo de encarar trabalho e finanças no mundo ocidental. Sua doutrina central da “soberania de Deus” norteou a elaboração das Institutas, obra ainda de referência no século XXI. O cristianismo calvinista ou reformado, fruto do seu trabalho, resultou nas igrejas reformadas alemãs e holandesas, além de exercer influência sobre outros grupos, como os batistas e os congregacionais. Mais ainda, resultou na organização do Presbiterianismo, assunto a ser discutido proximamente.

23. ZURIQUE E O RADICALISMO

“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. (Mateus 22. 21b)

Liberdade religiosa e separação entre a Igreja e o Estado foram discussões  iniciadas pela Reforma Protestante a partir do século XVI. No Catolicismo tinha existido, até então, interdependência entre os poderes do Rei e do Papa. O Protestantismo inicial surgiu em uma época na qual ainda não se cogitava a liberdade religiosa.
Conforme já se mencionou previamente, antes, durante e após o início da reforma protestante de Lutero, outros movimentos similares surgiram em regiões europeias diferentes, principalmente na Alemanha e na Suíça. Andreas Karlstadt, contemporâneo de Lutero em Wittenberg, por exemplo, no natal de 1525, aboliu a vestimenta clerical normal e o sacrifício na missa, passando a usar o alemão em vez do latim e promovendo a distribuição de pão e vinho para todos. No seu radicalismo, a música foi proibida e as imagens religiosas deveriam ser quebradas. Karlstadt trocou Wittenberg pela Suíça, onde continuou empreendendo reforma mais radical. Assim como ele, diversos outros movimentos surgiram; focalizaremos nossa atenção em um deles.
Como uma alternativa suíça para a reforma iniciada na Alemanha, surgiu em Zurique Úlrico Zuinglio (1484-1531), um líder político-religioso que viveu na época da formação da Confederação Helvética no país. Na Confederação, Zuinglio lutou por uma reforma institucional e moral.
Contemporâneo de Lutero, Zuinglio estudou em Berna e ingressou na Universidade de Viena, onde se tornou humanista. Em seguida, estudou na Universidade de Basileia, na qual foi influenciado pelo interesse bíblico de alguns mestres, entre eles o humanista holandês Erasmo de Roterdã. Após obter o grau de mestre em 1506, Zuinglio foi ordenado ao sacerdócio e tornou-se pároco na cidade de Glarus, chegando mais tarde a Zurique, onde assumiu o sacerdócio da principal igreja da cidade. Atuando em Zurique, Zuinglio imaginava a cidade obediente à Palavra de Deus; o Conselho da Cidade, corporação formada por cidadãos devidamente eleitos, apoiaria seu trabalho e seria consultado se a Bíblia precisasse ser interpretada em passagens mais difíceis. Em 1522, o reformador protestou contra o jejum da quaresma e o celibato clerical, tendo renunciado ao sacerdócio e sendo contratado como pastor evangélico pelo Conselho. Casado secretamente com a viúva Ana Reinhart, Zuinglio começou então uma progressiva implantação da reforma em Zurique, substituindo o sacrifício da missa pela Ceia do Senhor em 1525, além de estabelecer outras mudanças.
Havia diferenças entre a reforma moralista de Zuinglio e a ênfase de Lutero na “graça de Deus”. Em 1520, num confronto pessoal entre os dois reformadores, houve discordância com relação à “presença real” de Cristo na ceia: Lutero não bania totalmente a transubstanciação, enquanto Zuinglio falava em “memorial”. Além disso, Lutero tolerava inicialmente a presença das imagens na igreja e Zuinglio as bania.
Em 1531, cinco cantões católicos suíços opostos ao movimento protestante declararam guerra à Zurique de Zuinglio, e a cidade enfrentou a batalha sozinha, na qual os protestantes foram derrotados e dizimados; Zuinglio foi morto, esquartejado e queimado, sendo suas cinzas espalhadas, para que não se buscasse por relíquias. O movimento anabatista surgiu enquanto Zuinglio ainda vivia.
Segundo o historiador Shelley, os anabatistas constituíam-se em “uma voz chamando os reformadores moderados para combater em maior profundidade os fundamentos da antiga ordem”. Não se satisfaziam eles somente com as mudanças propostas por Lutero, mas queriam ir além. O início do movimento pode ser considerado a partir do batismo de Conrad Grebel e Felix Manz, em 1525. Apoiadores iniciais de Zuinglio, Grebel e Manz acabaram discordando do reformador inicial por considerá-lo pouco tendente a mudanças mais profundas na igreja, as quais achavam necessárias.
Thomas Münzer, outro líder anabatista inicial, havia nascido em Zwickau, cidade alemã de onde surgiu um movimento, numa alternativa radical a Lutero, evento conhecido na história como os “Profetas de Zwickau”. Tendo influenciado Karlstad em Wittenberg, mas sendo repudiado por Lutero, o movimento profético levou a uma grande radicalização na cidade de origem, com mudanças nas áreas religiosa e social, incentivo à poligamia e à comunhão de bens. Lutas foram lideradas pelo bispo católico da região, ajudado por grande grupo de combatentes, o qual retomou a cidade da qual havia sido banido e executou os líderes insurgentes. Embora restrito apenas a um grupo específico dos anabatistas, o fato motivou condenação aos seguidores do movimento em geral, bem como perseguição generalizada, empreendida tanto pelos protestantes quanto pelos católicos.
Segundo o historiador Shelley, o rebatismo de adultos mediante confissão de fé como oposição ao pedobatismo é uma característica marcante dos anabatistas. Além disso, o movimento buscava a prática de uma vida de discipulado, um caminho diário com Deus em imitação à vida de Cristo, primando pelo pacifismo e pelo amor na devoção diária. Quanto à política eclesiástica, a Igreja buscava praticar uma visão congregacional de autoridade, pleiteando-se uma separação completa entre o que é de César e o que é de Deus.
Três grupos anabatistas iniciais podem ser apontados como os mais importantes: a Fraternidade Suíça de Conrad Grebel e Felix Manz; a Fraternidade Hutterita na Morávia (com crescimento maior após a morte de Jakob Hutter, em 1536) e os Menonitas, seguidores de Menno Simons (1496-1561) nos países baixos e no norte da Alemanha.
Hoje, podemos encontrar anabatistas em Igrejas Menonitas e também em grupos conhecidos como “Amish” principalmente. Os dois representam formas diferentes que o movimento assumiu, com os menonitas mais integrados ao mundo do século XXI e os “Amish” ainda assumindo uma postura de separação da sociedade desenvolvida após a industrialização. No entanto, permanecem nos grupos a prática do pacifismo, a separação irrestrita entre Igreja e Estado, a negativa ao serviço militar e ao porte de armas e outras atitudes que ainda denotam uma atitude radical de reforma da Igreja, na busca de torná-la menos institucionalizada.
Na mesma região geográfica da Suíça onde surgiram os anabatistas houve importantes figuras e eventos na sequência na Reforma Protestante, assunto a ser abordado no próximo fascículo.

22. O LUTERANISMO

"Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos”. (Atos 11.26b)

Iniciada em Jerusalém, a Igreja Cristã, assim chamada a partir de Antioquia, passou por diferentes fases e mudanças, até que acontecesse a Reforma Protestante. A partir de então, novos nomes surgiriam para congregações diferentes, sendo a primeira denominação aquela que deu sequência à obra do reformador inicial.
Foi de Lutero o seguinte pedido: “A primeira coisa que peço é que as pessoas não façam uso de meu nome e não se chamem luteranas, mas cristãs. Que é Lutero? O ensino não é meu. Nem fui crucificado por ninguém” (“Teologia dos reformadores”, de Timothy George, citando Lutero).
Embora não desejado pelo Reformador, com o desenrolar da história, os acontecimentos acabaram por desenvolver o Luteranismo. É inegável a contribuição de Lutero para isso, conforme já se abordou no fascículo anterior. Para os novos tempos, Lutero deixou obras importantes para a Alemanha e para a Igreja: os textos dos Catecismos Maior e Menor, a Bíblia na linguagem do povo, a composição de hinos, além das ideias de implantação de escolas públicas com educação elementar para o povo poder ler a Bíblia. Lutero defendeu alguns princípios básicos que viriam a caracterizar as convicções e práticas protestantes, como seus “Cinco Sola”, por exemplo: sola Scripturasola gratiasola fidesolus Christus, soli Deo gloria. Outro princípio aceito por todos os reformadores foi o do sacerdócio universal dos fieis.
Não há, porém, como falar de Luteranismo sem mencionar Felipe Melanchton (1497-1560). Antes de mais nada, Melanchton era um humanista: dominava e conhecia os clássicos gregos e latinos, tendo influenciado inclusive o próprio Lutero, apoiando-o com o seu grande conhecimento das duas línguas, além de suas ideias teológicas e da retórica. Ele foi professor em Wittenberg de 1518 a 1560; por ele passaram as grandes mentes e os líderes da igreja luterana inicial.
Com a  sua excomunhão em 1521 e  separação do catolicismo após a Dieta de Worms, Lutero não pôde participar da Dieta de Augsburgo, em 1530, através da qual Carlos V queria solucionar o cisma luterano. Melanchton, então, apareceu como a principal figura teológica no evento, quando os príncipes luteranos foram intimados a retornar à Igreja Católica Romana. Foi ele quem redigiu a Confissão de Fé apresentada diante do imperador e quem depois escreveu a defesa da Confissão, chamada de Apologia, como resposta à contestação da liderança católica. Com a morte de Lutero, em 1546, Melanchton naturalmente assumiu a liderança teológica do movimento luterano, embora muitos pontos de sua teologia fossem contestados.
A busca pela unidade exterior da Igreja Cristã sempre foi uma preocupação de Melanchton, embora tenha sido severamente criticado por parecer demonstrar inconstância com essa atitude. No relacionamento entre os luteranos e os demais segmentos cristãos, como os seguidores de Zuinglio e Calvino, incluindo-se aí também o catolicismo, Melanchton sempre procurou manter um tom conciliador. Havia nele um sincero desejo de expressar sua visão de catolicidade, num sentido amplo, dentro da Igreja. Isto fez com que ele buscasse corresponder-se com o Patriarca Católico Ortodoxo e mesmo com Henrique VIII, criador do Anglicanismo. Sobre ele, afirma Kolb: “Melanchton sabia que a igreja se estendia para além das fronteiras do seu pequeno pedaço da Alemanha. Esta percepção de Igreja como uma comunidade completa de Deus compelia-o a estender seu diálogo e preocupações além da Reforma Luterana...”
Em 1580, quando surgiu o Livro da Concórdia contendo os dogmas da Igreja Luterana, ficaram estabelecidos documentos e preces que explicam a fé luterana, incluindo a Confissão de Augsburgo, com as crenças básicas da igreja. São elas: 
  • A Bíblia como Palavra de Deus
  • Um só Deus, que se revela em três pessoas: Deus Pai, o Criador; Deus Filho, Jesus, o Salvador; e Deus Espírito Santo, o Santificador
  • O pecado como “transgressão” que nos afasta de Deus 
  • A salvação através de Jesus, o Filho de Deus que tira o pecado do mundo
  • O Batismo como sacramento, sendo praticado o pedobatismo, tanto através da imersão quanto da aspersão (forma mais usada)
  • A Santa Ceia, encarada como outro sacramento da igreja e considerada como “o verdadeiro corpo e sangue de Jesus, recebido em, com e sob o pão e o vinho”
  • A vida eterna com Deus como o maior bem almejado e garantido em Jesus.
A partir de 1531, com a formação da Liga de Schmalkald, os príncipes alemães que aderiram a Lutero levaram o movimento a grandes progressos, principalmente no norte da Alemanha. Com a assinatura da Paz de Augsburgo em 1555, cada príncipe ficou responsável pela escolha da religião oficial de suas possessões, dividindo a Alemanha em regiões luteranas e católicas. Pessoas que não concordassem com a decisão eclesiástica do dirigente deveriam se mudar da região. Tal como no catolicismo romano, continuou havendo no país a interdependência Governo e Igreja, não existindo ainda condições para se pensar em liberdade religiosa.
Em sua expansão pelo norte da Europa, na Suécia, o luteranismo tornou-se religião oficial em 1527, e na Finlândia, controlada pela Suécia, por volta do ano 1530, o luteranismo era a fé do povo e dos líderes. A Dinamarca, a partir de 1536, aboliu a religião católica e confiscou todas as propriedades romanas, tornando o luteranismo religião oficial em 1539. A Noruega, dominada pela Dinamarca até 1814, foi obrigada a aceitar as mudanças religiosas. Na Islândia, outra região de domínio dinamarquês até o século XX, o luteranismo foi adotado como religião oficial a partir de 1554. Em termos gerais, o luteranismo influenciou também a reforma de John Knox, na Escócia, e também o Anglicanismo na Inglaterra.
Hoje, no Portal da Igreja Luterana na internet, podem ser encontradas declarações de que “a comunhão de igrejas luteranas terá que colocar, necessariamente, no centro de seu trabalho, questões que envolvem injustiça, fome e pobreza”, conforme afirmou Margot Kaessmann, episcopisa da Igreja de Hannover. Reunidos em Augsburgo, na Alemanha, em uma etapa preparatória inclusive alusiva aos festejos do jubileu da Reforma em 2017, 120 teólogos e teólogas discutiram sobre perspectivas e caminhos para a transformação da Igreja atual. Buscava-se responder o que significa ser luterano no século XXI. O que significa ser cristão no século XXI também deveria ser a preocupação de todos nós hoje, independentemente da denominação.
Naqueles primórdios da Reforma Protestante do século XVI, o radicalismo foi uma das características de parte do movimento, o qual será visto no próximo fascículo. Naqueles primórdios da Reforma Protestante do século XVI, o radicalismo foi uma das características de parte do movimento, o qual será visto no próximo fascículo.