“Revesti-vos de toda a
armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do
diabo; porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas,
sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das
trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Efésios
6.11-12)
Nos
tempos apostólicos, a armadura era o uniforme de guerra do soldado romano,
elemento usado por Paulo para comparar com o aparelhamento do cristão nas
batalhas espirituais. A mensagem de Cristo nunca foi guerreira no sentido
literal, embora tenha sido por vezes revolucionária. No entanto, uma igreja que
enfrentou por trezentos anos a perseguição de soldados romanos equipados, após
a invasão bárbara ao Império Ocidental passou a conviver com povos guerreiros e
belicosos, que a influenciaram de tal forma que seus líderes começaram a
desenvolver espírito guerreiro, uma das marcas deixadas no cristianismo pelos
povos germânicos anexados ao Império. Isto ficou evidente na história em vários
momentos, mas principalmente nas cruzadas. E tudo foi motivado por uma cidade
que até hoje tem sido lugar de conflito ao longo da história: Jerusalém.
O
que foram as cruzadas? As cruzadas se constituíram em uma “guerra santa”, logo
após o domínio dos turcos muçulmanos sobre a região da Palestina, considerada
sagrada pelos cristãos. Após domínio da região, os turcos passaram a impedir
ferozmente a peregrinação dos europeus, através da captura e do assassinato de
muitos peregrinos que visitavam o local em nome da fé. As cruzadas aconteceram
entre os séculos XI e XIV. Em
1095, o papa Urbano convocou o Concilio de Clermont, quando informou que havia
uma horrível notícia sendo propagada, sobre uma raça amaldiçoada e totalmente
alienada de Deus que havia invadido as terras dos cristãos, expulsando-os pela
espada. Apelava Urbano que os cristãos deveriam retomar as terras daquela raça
invasora. "Deus vult! Deus vult!"
“Deus deseja”, disse o papa, repetiu a
multidão, e esse se tornou o grito
de guerra das Cruzadas. Foi o início do primeiro empreendimento, o de melhor resultado
final. A longo do percurso, franceses e italianos foram aderindo ao
movimento, alguns motivados por objetivos religiosos, outros pensando nos
lucros que teriam e outros ainda na aventura que seria recapturar os locais de
peregrinação da Palestina que haviam caído nas mãos dos muçulmanos. Urbano
assegurava que os guerreiros cruzados entrariam no céu diretamente, ou teriam
redução no tempo de purgatório.
Após
a Primeira Cruzada, foi criada a Ordem dos Cavaleiros Templários, que teve
importante participação militar nos combates das Cruzadas seguintes. Os
templários eram guerreiros ferozes fiéis à Igreja, que não hesitariam em dar a
própria vida pela causa que lhes fosse confiada. Havia entre os templários padres,
cavaleiros, soldados, além dos cavaleiros hospitalários, que tanto combatiam
quanto cuidavam dos feridos. Tudo era feito em nome de Cristo sob o símbolo da
cruz.
O legado das Cruzadas foi
variado: ameaça no relacionamento entre as igrejas do Ocidente e do Oriente,
reação mais fanática dos inimigos por causa da brutalidade dos cruzados, grande
incremento ao poder do papado pela liderança conseguida ao número de soldados
arregimentados, além de outras. As consequências negativas das cruzadas foram
mais marcantes e acabaram por se manifestar mesmo em nossos dias. A crueldade
dos guerreiros cristãos que atenderam aos apelos papais para fazerem algo que,
segundo o Pontífice, Deus queria que fosse feito, acabou por ocasionar, em
nossos dias, uma “jirad” islâmica contra o mundo ocidental, uma “guerra santa”
em sentido inverso, em nome da mesma vontade de seguir os desejos de Alá de
conquistas de poder material.
Na época de Lutero, Júlio II (1503-1513) foi um papa guerreiro,
vestindo armadura e comandando pessoalmente o seu exército. Seu sucessor Leão X
(1513-1521) teria dito ao ser eleito: "Agora que Deus
nos deu o papado, vamos desfrutá-lo". Os dois papas foram os ocupantes
do trono de Pedro na época em que Lutero iniciou seu ministério como sacerdote
a serviços do catolicismo romano. Antes de Lutero, porém, houve gente que buscou, de alguma
forma, reformar alguns aspectos da Igreja. Vamos conhecer os pré-reformadores
no próximo fascículo.
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