20 séculos de Igreja Cristã

20 séculos de Igreja Cristã
do século I ao século XXI

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

29. AMSTERDAM E OS BATISTAS

“... ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. ” (Marcos 16.15-16)


Ano de 1609: um grupo de pessoas, ingleses dissidentes da Igreja Anglicana perseguidos em sua terra por causa de suas convicções religiosas e refugiados em Amsterdam, na Holanda, reuniram-se em uma padaria para iniciar uma nova igreja, pois, com base nas Escrituras, acreditavam que uma congregação local deveria ser formada por crentes convertidos e então batizados. Como haviam todos sido batizados quando crianças em suas paróquias anglicanas, passaram novamente pelo ato do batismo, primeiro o líder espiritual, John Smyth, depois toda a congregação. Com o arrependimento de John Smyth e da maior parte da congregação logo depois, um grupo de dez pessoas, sob a liderança de Thomas Helwys, se desligou do grupo maior, mantendo a união do embrião batista inglês em solo holandês, até que puderam voltar à Inglaterra para que lá ele fosse transplantado.
Na sua volta para Londres, Thomas Helwys e sua congregação foram residir em Spitalfields, nas cercanias de Londres, onde foi organizada a 1ª Igreja Batista Inglesa, em 1612. Com o passar do tempo, a igreja organizou outras congregações em Londres e arredores. Por volta de 1624, havia na cidade 5 congregações batistas; já em 1647, o número havia crescido para 47. Na época, Helwys escreveu “Uma Declaração de Fé do Povo Inglês”, a primeira confissão de fé batista em inglês, além de outro livro, “Uma Curta Declaração do Mistério da Iniquidade”. Entre outras coisas, Helwys afirma no livro: “Porque a religião dos homens com Deus é entre Deus e eles mesmos. O rei não deve responder por isso. Nem deve o rei ser juiz entre Deus e o homem”. Num país onde o Anglicanismo era religião oficial e o rei o cabeça da Igreja, Helwys foi preso e dele não se teve mais notícia. John Murton tornou-se pastor da congregação depois da prisão de Helwys, tendo também enfrentado prisão.
As Igrejas decorrentes do trabalho inicial de Helwys e Murton foram chamadas de “Batistas Gerais”, por sua influência arminiana, pois pregavam uma mensagem de salvação geral, universal, ou “de livre arbítrio”, teologia desenvolvida por Jacobus Arminius (1560-1609).
Assim diz o historiador Cairns: “O grupo mais forte de batistas calvinistas ou particulares originou-se de um cisma da congregação de Henry Jacob em Londres, entre 1633 e 1638. Eles defendiam o batismo dos crentes por imersão e uma teologia calvinista que enfatizava a expiação limitada”. Calvino entendia que Deus havia escolhido aqueles a quem iria salvar; afirmava ele que Jesus Cristo morreu para tornar certa a salvação dos eleitos.
O batismo é realmente a marca inicial batista, presente inclusive no nome da denominação, porém a preocupação inicial de Smyth e seus seguidores não foi quanto à imersão, mas quanto ao público alvo. A forma de batismo na época foi a aspersão, mantida por Helwys inicialmente na Inglaterra entre os Batistas Gerais.
O batismo por imersão foi resgatado pelos Batistas Particulares, através de Robert Blount, um membro da congregação de Jessey, após uma viagem feita à Holanda para pesquisar junto a um grupo menonita aquela forma de batismo por eles praticada. Em 1642, Blount foi batizado e, retornando à Inglaterra, batizou Samuel Blacklock. Esses dois batistas, então, batizaram os outros 53 membros da congregação.O nome “Batista” surgiu somente em meados do século XVII. 
A música, inicialmente ausente dos cultos batistas, foi introduzida pouco depois por Benjamin Keach, em Horsleydown, Londres. O cântico congregacional era utilizado inicialmente apenas após a Ceia do Senhor, com oposição de parte da congregação. Entre os princípios defendidos pelos batistas, destacam-se, entre outros, a autoridade de Cristo sobre toda a esfera da vida, a Bíblia como única regra de fé e prática, cada ser humano com competência e responsabilidade perante Deus quanto às decisões e questões morais e religiosas, a salvação como dádiva de Deus através de Jesus Cristo, cada cristão um sacerdote diante de Deus, batismo e Ceia do Senhor como símbolos constituindo-se nas duas ordenanças da igreja.
Os batistas começaram a ir para as colônias iniciais dos Estados Unidos após o Mayflower, que chegou à América em 1620. Um ministro anglicano de nome Roger Williams foi um dos imigrantes, um homem inconformado com os rumos que a igreja anglicana a que pertencia ia tomando. Após desencontros nos anos iniciais na região de Plymouth, Williams partiu para uma região ainda inexplorada, no território indígena, em meados da década de 1630, onde estabeleceu uma povoação, à qual chamou de Providence. Anos após o estabelecimento de Providence, um grupo de cidadãos decidiu que deveriam iniciar ali uma igreja. Cerca de uma dúzia de pessoas foi batizada, entre elas Roger Williams, tornando-se os membros fundadores da 1ª Igreja Batista de Providence, a primeira na América. Roger Williams foi seu primeiro pastor. Após Providence, John Clarke, em 1644, criou a segunda igreja em Newport, na mesma colônia que viria a se chamar Rhode Island.
Com o surgimento do trabalho batista em solo americano em Rhode Island, aos poucos foram surgindo igrejas batistas em todas as treze colônias na ocupação inicial dos Estados Unidos. Com o crescimento do país, os batistas muito se desenvolveram, em todos os estados criados, vindo a se constituir no maior grupo cristão dos Estados Unidos.
Foi a Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos que nomeou os missionários pioneiros para o Brasil. O final da Guerra da Secessão dos Estados Unidos motivou a organização da 1ª igreja batista em solo brasileiro, em Santa Bárbara, Estado de São Paulo, em 10/09/1871 sob a liderança do pastor Richard Ratcliff, seguida de outra congregação. Das duas igrejas saíram as cartas demissórias dos cinco membros fundadores da 1ª Igreja de Salvador, na Bahia, em 15/10/1882: os casais Bagby e Taylor e o ex-padre Teixeira de Albuquerque.  A imigração de Santa Bárbara serviu de via, preparando o caminho, para que a “Via da Missão” efetivamente iniciasse a pregação do evangelho para os brasileiros, conforme a visão batista.
A Convenção Batista Brasileira é o órgão máximo da denominação no Brasil, sendo a maior convenção da denominação na América Latina, ao representar cerca de 7.000 igrejas, 4.000 missões e 1.350.000 fiéis no ano de 2012.
Em 1905, realizou-se em Londres um congresso, com cerca de 2.500 delegados das Ilhas Britânicas e 750 de aproximadamente vinte e dois países do mundo, organizando a Aliança Batista Mundial. Cerca de 157.000 grupos diferentes de batistas fazem parte da Aliança, espalhados em mais de 200 países, representando mais de 37 milhões de membros de igrejas em todo o mundo.
Presbiterianos, batistas, luteranos, anglicanos e outros formaram o que se convencionou chamar de denominações. Denominacionalismo é o assunto do próximo segmento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário