20 séculos de Igreja Cristã

20 séculos de Igreja Cristã
do século I ao século XXI

segunda-feira, 2 de maio de 2016

47. A IGREJA CATÓLICA ORTODOXA

“Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor”. (João 10.16)


A Igreja Católica Ortodoxa é uma comunhão de igrejas cristãs autogovernadas, herdeiras da cristandade no Império Bizantino, que reconhece o primado do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla desde que a sede de Roma deixou de seguir a ortodoxia, segundo informa o portal virtual da organização. A cisão com Roma ocorreu no século XI.
Tudo começou em Bizâncio, uma cidade da Grécia Antiga que, segundo Eusébio de Cesareia, foi fundada por Bizas em 658 a.C.; os romanos latinizaram o nome para Byzantium. A cidade veio a se tornar o centro da parte Oriental do Império Romano que falava grego, da Antiguidade até a Idade Média. Foi nessa região que Constantino criou Constantinopla, a 2ª Roma. A cidade localizava-se em um ponto de cruzamento entre dois continentes, posição de vital importância comercial, cultural e diplomática, a qual lhe permitia controlar as rotas que ligavam a Ásia à Europa, assim como a passagem do mar Mediterrâneo para o mar Negro. Quando a cidade caiu na mão dos turcos em 1453, Constantinopla tornou-se a capital de outro estado poderoso, o Império Otomano, com o nome de Istambul, sendo até hoje a maior e mais importante cidade da atual República da Turquia.
Quando a Grécia passou a fazer parte do Império Romano, os historiadores costumam afirmar que Roma conquistou Atenas pela força das armas, mas foi conquistada pela cultura grega. Na verdade, mesmo a imposição do latim como língua oficial foi mais efetiva na região ocidental, a partir de Roma, do que na região oriental, começando por Atenas. A igreja cristã, tendo surgido na Judeia, no interior da parte oriental do Império, aos poucos foi-se espalhando por todas as regiões, atingindo também a parte ocidental. No entanto, no decorrer dos séculos, as diferenças dentro do catolicismo que surgia se fizeram sentir entre os setores ocidental e oriental. Já no final do século III, Diocleciano havia criado o quadrunvirato, ou seja, o governo de dois “augusti” e dois “cesares”, cada dupla para dirigir o império na parte ocidental e na parte oriental. Constantino, conforme já foi dito, criou Constantinopla, que acabou sendo a capital do Império Romano do Oriente, sobrevivendo a Roma após a queda da cidade diante da invasão dos bárbaros germânicos. A divisão política oficial do Império Romano entre Ocidente e Oriente ocorreu em 395, com o imperador Teodósio. As Igrejas Católicas Ocidental e Oriental conviveram com diferenças durante séculos, vindo a se separar política e eclesiasticamente no século XI, em 1054.
Existem diferenças entre o Catolicismo Romano e o Ortodoxa. A Igreja Ortodoxa não aceita a primazia nem a infalibilidade do bispo de Roma, o Papa, conforme definidas pela Igreja Católica Romana. O Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade, pela doutrina romana, procede do Pai e do Filho, conforme definido no Concílio de Niceia, enquanto que o Espírito Santo só procede do Pai para os ortodoxos. A Igreja Ortodoxa não admite a existência do purgatório nem do limbo, bem como não aceita as indulgências, a gota d’água que fez transbordar o copo na Reforma Protestante. A Igreja Romana sempre defendeu a imaculada conceição de Maria, enquanto os ortodoxos aceitam sua concepção com o pecado original. Existem diferenças na celebração da missa, bem como nas tradicionais devoções da Igreja Católica Romana; a Igreja Ortodoxa não realiza certas comemorações, como a de Corpus Christi, do Sagrado Coração de Jesus, a cerimônia da Via Crucis, o culto ao Imaculado Coração de Maria, ao Rosário e outras. Enquanto os católicos romanos veneram imagens, os ortodoxos só aceitam ícones nos templos.
Além disso, os sacerdotes ortodoxos têm liberdade de optar entre o celibato e o matrimônio, enquanto os sacerdotes católicos são celibatários por dogma. A Igreja Ortodoxa reconhece o primado do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla desde que a sede de Roma deixou de seguir a ortodoxia. Ela reivindica ser a continuidade da Igreja fundada por Jesus, considerando seus líderes como sucessores dos apóstolos. No seu conjunto, a Igreja Ortodoxa ("igreja da doutrina correta", significado do nome) é a terceira maior confissão cristã, contando, em todo o mundo, com aproximadamente 250 milhões de fiéis, concentrados sobretudo nos países da Europa Oriental, sendo as mais importantes as Igrejas Ortodoxas Grega e a Russa.
No século VIII, Roma colocou-se sob a proteção do Sacro Império Romano-Germânico, enquanto Constantinopla estava sob a jurisdição do Império Bizantino. Criou-se assim uma situação em que as Igrejas em Roma e em Constantinopla estavam no seio de dois impérios distintos, fortes e autossuficientes, cada qual com sua própria tradição e cultura. Essa situação continuou até que Constantinopla deixou de ser cristã, invadida que foi pelos turcos otomanos. Perdendo a situação de sede da Igreja Ortodoxa, a partir de então tal posição passou a ser reivindicada pela Rússia, que se considera a 3ª Roma, época na qual seus imperadores adaptaram para a língua russa o título “césar”, passando a “czar”, nos tempos de Ivan, o Terrível. A igreja Ortodoxa, tornada oficial na Rússia, passou a ser dirigida no reino pelo patriarca de Moscou. Essa situação foi interrompida no século XX, com a revolução comunista. Reinstituídos por Stalin em 1943, o Patriarcado e a Igreja ainda sofreriam perseguições sob Khrushchev, que chegou a fechar 12 mil templos. Menos de 7 mil permaneciam ativos em 1982. Com o ateísmo de estado das nações comunistas, a Igreja Ortodoxa sofreu fortemente com perseguição e censura, e não somente na Rússia, mas também na Albânia, na Romênia, além de outros países do leste europeu.
Atualmente, a Igreja Ortodoxa é formada pela comunhão de catorze jurisdições eclesiásticas autogovernadas que professam a mesma fé e praticam basicamente os mesmos ritos, com algumas variantes culturais. O chefe espiritual das Igrejas Ortodoxas é o Patriarca de Constantinopla, título mais honorífico que efetivo, uma vez que os patriarcas de cada uma dessas igrejas são independentes. Desta forma, diz-se que o Patriarca de Constantinopla é o primeiro entre iguais. Para os ortodoxos, o chefe único da Igreja é o próprio Senhor Jesus Cristo. A autoridade suprema da Igreja Ortodoxa na terra é o Santo Sínodo, que se compõe de todos os patriarcas chefes das igrejas autogovernadas e dos arcebispos primazes das igrejas autônomas, que se reúnem por chamada do Patriarca Ecumênico de Constantinopla. Historicamente, a Igreja Ortodoxa reconhece sete Concílios Ecumênicos: Os dois de Niceia, os três de Constantinopla, Éfeso e Calcedônia.
No Brasil, a Igreja Ortodoxa chegou juntamente com a imigração árabe. A primeira instituição foi edificada em São Paulo, no ano de 1904, sendo que a grande Catedral Ortodoxa foi aberta ao público em 1954, por ocasião da celebração do quarto centenário da cidade de São Paulo.
Os cismas da igreja cristã e as tentativas de volta à unidade inicial no século XX, chamado de Ecumenismo, é o próximo assunto a ser abordado.

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