Teologia é a ciência ou conhecimento de Deus: sua natureza, atributos e suas relações com o homem e com o universo. Como ciência, ela é humana, mutável, variando de acordo com a passagem do tempo e com a diversidade das culturas alcançadas pelo evangelho. Vamos examinar sua evolução em diferentes momentos da história da Igreja.
Nos quatro primeiros séculos da história da Igreja, Alexandria no Egito, Antioquia na Turquia e Cartago no norte da África Ocidental foram importantes centros de debate teológico inicial. A participação dos Pais Apostólicos, o desenvolvimento dos credos e a canonização do Novo Testamento destacam-se como importantes contribuições teológicas no período.
Na Idade Média, o Escolasticismo é um dos movimentos intelectuais mais importantes da teologia. Método de pensamento crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias, o Escolasticismo tentava conciliar a fé cristã com o sistema de pensamento racional da filosofia grega. A obra-prima de Tomás de Aquino, Summa Theologica, é apontada como exemplo maior do período.
A época da Reforma, uma das mais criativas na história da teologia cristã, destaca principalmente a teologia de Martinho Lutero e a de João Calvino. Base do ataque dos reformadores à heterodoxia católica medieval, a teologia da Reforma Protestante foi um rompimento com o paganismo religioso do catolicismo, promovendo o retorno às Escrituras, em seus cinco valores fundamentais, conhecidos em latim como Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus e Soli Deo Gloria.
Na Idade Moderna, a partir do século XVIII, a teologia passou a ser um fato global, não mais restrito à Europa, tendo como motivadores a colonização dos Estados Unidos, os avivamentos (principalmente com Jonathan Edwards) e a criação de seminários. Até o século XX, houve uma hegemonia anglo-germânica na teologia e, a partir de então, a prevalência passou a ser dos Estados Unidos. Outros fatos importantes foram: a expansão da teologia Cristã na Austrália, na Ásia, na Índia, no Extremo Oriente e na África abaixo do Saara. O Iluminismo, o movimento mais expressivo ocorrido na Idade Moderna, com seus desdobramentos no Romantismo, no Marxismo, no Protestantismo Liberal, no Modernismo, na Neo-ortodoxia e outros, produziu reflexos na teologia do período.
Importantes teólogos têm surgido nos últimos séculos. O dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855) teve uma vida constestadora. Homem amargo e de convivência difícil, principalmente após uma relação amorosa mal resolvida com uma jovem, após muitos escritos filosóficos polêmicos, Kierkegaard tornou-se teólogo, tentando responder questões como “de que maneira alguém pode ser um cristão verdadeiro em um mundo caído” e encontrando respostas desesperadoras. “Somente os milagres de Deus poderiam nos salvar”, concluía ele. Kierkegaard não tinha esperança nos sistemas ou nas instituições religiosas de sua época. Tendo vivido em um século no qual a igreja luterana dinamarquesa era influente e próspera, Kierkegaard criticava a pouca vida espiritual que nela via. Após ataques devastadores à igreja organizada, Kierkegaard publicou 21 artigos fundamentais no jornal “A Pátria”, entre dezembro de 1854 e maio de 1855. O teólogo faleceu em 1855, aos 42 anos de idade. A influência de Kierkegaard cresceu no século XX, quando foi saudado como o "pai do existencialismo".
No século XIX, os avanços alcançados pela ciência pareciam transformar o mundo em um lugar menos misterioso; por isso, em vez de um Deus sobrenatural, muitos procuravam criar o paraíso na terra. A teoria de Darwin e outros avanços científicos questionavam os elementos sobrenaturais da Bíblia. A teologia liberal daquela época retratava um Deus sem ira, um Cristo ético e um Reino de Deus plenamente mundano. No século XX, no entanto, a I Guerra Mundial esfriou a euforia existencialista vivida no momento, quando muitas pessoas passaram a enxergar a natureza falida do pensamento liberal. Entre esses questionadores estava um pastor chamado Karl Barth.
Voltando-se para a carta paulina aos Romanos e diante das atrocidades da guerra, Karl Karl Barth (1886-1968) encontrou algo que mudou sua fé e promoveu uma volta à teologia de Agostinho, Lutero e Wesley. Em sua obra “Comentário da Carta aos Romanos”, Barth descrevia Deus como soberano e transcendente. A queda do homem foi o primeiro passo, pois a partir de então, o homem estava atrelado ao pecado, não sendo mais capaz de descobrir a verdade de Deus por si mesmo. Deus precisava se revelar ao homem, e ele fez isso através de Jesus Cristo. As afirmações doutrinárias de Barth causaram muita discussão, tornaram-no professor de teologia na Alemanha e colocaram-no em rota de colisão com o discurso de Adolf Hitler sobre a igreja. Em 1935, Barth foi expulso da Alemanha e fugiu para a Basileia, na Suíça, a fim de ensinar teologia, onde escreveu muito, incluindo sua obra principal, os treze volumes da “Dogmática Eclesiástica”, obra-prima teológica do protestantismo. Suas idéias se tornaram a base da neo-ortodoxia. Embora contestado em algumas ideias que deixou, Barth encorajou o estudo bíblico sério, enfatizou a pregação dinâmica e levou o homem de volta à compreensão de sua necessidade do Deus todo-poderoso. Em uma época em que muitos se haviam voltado para o mundo em busca de esperança, ele pedia que todos olhassem para Cristo.
O nazismo de Hitler expulsou o teólogo Karl Barth da Alemanha, mas executou Bonhoeffer. Aluno de Karl Barth, Dietrich Bonhoeffer (1906-1945) foi doutor em Teologia na Universidade de Berlim com apenas 21 anos. Ele era capelão e orador luterano naquela cidade quando Hitler chegou ao poder em 1933. As idéias nazistas começaram a se infiltrar na igreja, com Hitler buscando apoio do clero luterano e católico e seduzindo o povo com a ideia de uma igreja puramente alemã. No entanto, cristãos sinceros se opuseram ao nazismo, aderindo à Declaração de Barmen, de autoria de Karl Barth, a qual destacava os erros doutrinários dos cristãos alemães. Bonhoeffer desempenhou uma atividade político-religiosa em seu ministério, e sua atividade política acabou causando sua prisão em 1943, principalmente por ajudar a introduzir clandestinamente judeus na Suíça. “Cartas e Papéis da Prisão” foi sua obra literária enquanto aguardava a execução, com publicação póstuma. "Cristianismo sem religião", "a morte de Deus", "o mundo atingiu sua maioridade" e outras expressões suas acabaram sem explicação com a sua ausência. Em 1945, Dietrich Bonhoeffer foi enforcado pelos nazistas. A II Guerra Mundial terminaria poucos meses após, no mesmo ano.
Bonhoeffer cria que a fé tem custo, precisa ser convincente e cheia de autonegação. Segundo ele, muitos aceitavam na sua época um cristianismo composto por uma "graça barata", encorajando uma fé fácil. Mais de meio século após sua morte, estamos vendo hoje em muitas igrejas essa triste realidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário