20 séculos de Igreja Cristã

20 séculos de Igreja Cristã
do século I ao século XXI

segunda-feira, 2 de maio de 2016

48. A IGREJA E O ECUMENISMO

“Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim”. (Mateus 24.13-14)


Ecumenismo é um movimento que busca a união de todas as igrejas cristãs, em um apelo à unidade de todos os povos contido na mensagem do Evangelho. Ecumênico, vindo de radical grego, significa "mundial, geral ou universal", tal como o termo católico, que vem do latim. O movimento ecumênico surgiu oficialmente a partir da Conferência Missionária Mundial, realizada em 1910 em Edimburgo, na Escócia, sendo sua principal expressão atual o Conselho Mundial de Igrejas, criado na Holanda em 1948.
Na oração sacerdotal, Jesus orou por seus discípulos ao Pai, “para que sejam um, assim como nós”. Estendeu ainda sua oração a nós, no século XXI, quando disse: “Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”. Jesus desejava unidade para os seus seguidores e sua Igreja.
Coesão, solidariedade e amor fraternal eram marcas iniciais da igreja em Jerusalém, ideais esses que logo foram atenuados por diferentes razões, como o surgimentos de divisões entre judaizantes e helenistas ainda em Jerusalém, entre cristãos latinos e gregos e, mais tarde, entre católicos e protestantes, no século XVI, além de muitas outras cisões ao longo dos séculos.
O movimento de missões mundiais empreendido pelas igrejas protestantes europeias e norte-americanas a partir do século XIX alertou os missionários, trabalhando em diferentes partes do mundo, para a dificuldade de testemunhar do evangelho de Cristo em meio a tantas divisões e competições. Tempos depois, surgiu a reunião de Edimburgo. No entanto, diferenças entre tradicionalismo e liberalismo, por exemplo, tornaram o processo bastante problemático. Aos poucos, questionamentos teológicos mais amplos foram surgindo, tornando o debate mais aberto e radical. O caráter único de Cristo como Salvador e da fé nele como condição indispensável para a salvação foi questionado, entendendo alguns que as outras religiões mundiais também são caminhos válidos para Deus e negando o evangelho de Cristo como o único caminho. O ecumenismo passou a ter uma amplitude ainda maior que a inicial de união cristã.
As missões passaram a ser vistas sob novos ângulos, relativizando-se a importância da Bíblia, de Cristo e do evangelho e entendendo-se a missão da igreja não apenas como reconciliação com Deus, mas de libertação social e política de pessoas e grupos marginalizados das situações de sofrimento e opressão em que vivem. Surgem daí as questões de libertação nacional, de luta das minorias étnicas, raciais ou religiosas, além do envolvimento de movimentos como o feminismo e o homossexualismo.
Visando à união das igrejas cristãs, o ecumenismo tem-se tornado motivo de discórdia e separação, com igrejas que a ele se associam defendendo uma sociedade mais permissiva. Apesar dos desvios do movimento ecumênico majoritário, no entanto, o ideal da cooperação e do testemunho conjunto deve continuar sendo objeto dos interesses e esforços dos cristãos de boa vontade. Todavia, é importante que isso seja feito sem se abrir mão das convicções centrais que caracterizam o cristianismo bíblico.
Desde a Reforma Protestante iniciada em 1517, houve tentativas de reaproximação entre o catolicismo e seus descendentes mais diretos, como anglicanos, luteranos e ortodoxos. Lutero, Calvino e outros reformadores iniciais entendiam a separação do cristianismo como necessária naquele momento, mas criam que o catolicismo poderia ser convencido a discutir divergências, anulando a cisão. No entanto, com o Concílio de Trento, Roma fechou as portas para que tal acontecesse. No século XX, houve novas tentativas de reaproximação, com reuniões e grupos criados, culminando com o Concilio Mundial de Igrejas, com sede em Amsterdã na Holanda, em 1948. O Vaticano adotou a ideia e a encíclica "Ad Petri Cathedram", do papa João XXIII (1958–1963) convidava todos os "irmãos separados" a unirem-se à "Igreja Mãe". O Concílio Ecumênico Vaticano II, em seu decreto "Unitatis Redintegratio" no capítulo intitulado "Os princípios Católicos do Ecumenismo", reforçou esse desejo.
No portal virtual "solascriptura", o texto “Os perigos do ecumenismo”, escrito pelo pastor Waldir Ferro, afirma: “Uma igreja acostumada a prevalecer, não pela razão, mas pela imposição de uma religião estatal, desde o tempo de Constantino em 313, nunca pôde ver com bons olhos a perda de influência e de poder”. Segundo o ex-padre Anibal Pereira Reis em seus livros “O Ecumenismo” e “O Ecumenismo e os Batistas”, a mudança de atitude do catolicismo romano para com as demais igrejas, numa tentantiva de reaproximação, data da tendência de o estado laico assumir as escolas públicas, bem como do desenvolvimento da mídia, (jornais, revistas, rádio, TV e modernamente internet), tornando-se ela formadora de opinião. Como a igreja queria manter sua influência junto à juventude, a atitude de oposição e conflito com os evangélicos e seus líderes foi mudada por orientação de Roma. Treinamento foi dado aos padres a partir dos anos 1960, e a igreja buscou tornar-se mais acessível ao povo e aos pastores. Trabalhos em conjunto na sociedade e ajuntamentos de cunho religioso, os “cultos ecumênicos”, passaram a ser promovidos, com o representante católico colocado em posição superior aos demais, como representante da "igreja mãe".
Dogmas ou doutrinas sobre o pecado, a salvação, o Espirito Santo, a igreja e outros temas têm sido obstáculos para que movimentos ecumênicos realmente prosperem, pois, após as heterodoxias introduzidas no cristianismo pelo catolicismo, após os movimentos reformadores da igreja que resultaram em um grande número de igrejas que interpretam a mesma Bíblia de forma diferente, após o surgimento do pentecostalismo mais recentemente, (o qual dividiu a igreja em duas partes, quais sejam, os carismáticos de um lado e os tradicionais do outro), é preciso que o cristão, seja da igreja que for, busque fortalecer sua fé e conhecer as bases da sua crença, nunca deixando a Bíblia de lado, mas buscando nela a verdade personificada no próprio Senhor Jesus Cristo. Além disso, cremos que o que se deve buscar hoje é uma “unidade na diversidade”, mantendo cada grupo o que lhe é peculiar, mas atendo-se à essência do cristianismo, sem a qual ele não existe. Não é fácil definir-se o que é essencial e o que é acidental na fé cristã, assim como não se devem julgar os diferentes grupos dentro do cristianismo, separando-se o joio do trigo. A Igreja precisa continuar, mesmo reconhecendo que, no século XXI, há muito joio pregando o evangelho, assunto que proximamente deverá ser abordado.

47. A IGREJA CATÓLICA ORTODOXA

“Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor”. (João 10.16)


A Igreja Católica Ortodoxa é uma comunhão de igrejas cristãs autogovernadas, herdeiras da cristandade no Império Bizantino, que reconhece o primado do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla desde que a sede de Roma deixou de seguir a ortodoxia, segundo informa o portal virtual da organização. A cisão com Roma ocorreu no século XI.
Tudo começou em Bizâncio, uma cidade da Grécia Antiga que, segundo Eusébio de Cesareia, foi fundada por Bizas em 658 a.C.; os romanos latinizaram o nome para Byzantium. A cidade veio a se tornar o centro da parte Oriental do Império Romano que falava grego, da Antiguidade até a Idade Média. Foi nessa região que Constantino criou Constantinopla, a 2ª Roma. A cidade localizava-se em um ponto de cruzamento entre dois continentes, posição de vital importância comercial, cultural e diplomática, a qual lhe permitia controlar as rotas que ligavam a Ásia à Europa, assim como a passagem do mar Mediterrâneo para o mar Negro. Quando a cidade caiu na mão dos turcos em 1453, Constantinopla tornou-se a capital de outro estado poderoso, o Império Otomano, com o nome de Istambul, sendo até hoje a maior e mais importante cidade da atual República da Turquia.
Quando a Grécia passou a fazer parte do Império Romano, os historiadores costumam afirmar que Roma conquistou Atenas pela força das armas, mas foi conquistada pela cultura grega. Na verdade, mesmo a imposição do latim como língua oficial foi mais efetiva na região ocidental, a partir de Roma, do que na região oriental, começando por Atenas. A igreja cristã, tendo surgido na Judeia, no interior da parte oriental do Império, aos poucos foi-se espalhando por todas as regiões, atingindo também a parte ocidental. No entanto, no decorrer dos séculos, as diferenças dentro do catolicismo que surgia se fizeram sentir entre os setores ocidental e oriental. Já no final do século III, Diocleciano havia criado o quadrunvirato, ou seja, o governo de dois “augusti” e dois “cesares”, cada dupla para dirigir o império na parte ocidental e na parte oriental. Constantino, conforme já foi dito, criou Constantinopla, que acabou sendo a capital do Império Romano do Oriente, sobrevivendo a Roma após a queda da cidade diante da invasão dos bárbaros germânicos. A divisão política oficial do Império Romano entre Ocidente e Oriente ocorreu em 395, com o imperador Teodósio. As Igrejas Católicas Ocidental e Oriental conviveram com diferenças durante séculos, vindo a se separar política e eclesiasticamente no século XI, em 1054.
Existem diferenças entre o Catolicismo Romano e o Ortodoxa. A Igreja Ortodoxa não aceita a primazia nem a infalibilidade do bispo de Roma, o Papa, conforme definidas pela Igreja Católica Romana. O Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade, pela doutrina romana, procede do Pai e do Filho, conforme definido no Concílio de Niceia, enquanto que o Espírito Santo só procede do Pai para os ortodoxos. A Igreja Ortodoxa não admite a existência do purgatório nem do limbo, bem como não aceita as indulgências, a gota d’água que fez transbordar o copo na Reforma Protestante. A Igreja Romana sempre defendeu a imaculada conceição de Maria, enquanto os ortodoxos aceitam sua concepção com o pecado original. Existem diferenças na celebração da missa, bem como nas tradicionais devoções da Igreja Católica Romana; a Igreja Ortodoxa não realiza certas comemorações, como a de Corpus Christi, do Sagrado Coração de Jesus, a cerimônia da Via Crucis, o culto ao Imaculado Coração de Maria, ao Rosário e outras. Enquanto os católicos romanos veneram imagens, os ortodoxos só aceitam ícones nos templos.
Além disso, os sacerdotes ortodoxos têm liberdade de optar entre o celibato e o matrimônio, enquanto os sacerdotes católicos são celibatários por dogma. A Igreja Ortodoxa reconhece o primado do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla desde que a sede de Roma deixou de seguir a ortodoxia. Ela reivindica ser a continuidade da Igreja fundada por Jesus, considerando seus líderes como sucessores dos apóstolos. No seu conjunto, a Igreja Ortodoxa ("igreja da doutrina correta", significado do nome) é a terceira maior confissão cristã, contando, em todo o mundo, com aproximadamente 250 milhões de fiéis, concentrados sobretudo nos países da Europa Oriental, sendo as mais importantes as Igrejas Ortodoxas Grega e a Russa.
No século VIII, Roma colocou-se sob a proteção do Sacro Império Romano-Germânico, enquanto Constantinopla estava sob a jurisdição do Império Bizantino. Criou-se assim uma situação em que as Igrejas em Roma e em Constantinopla estavam no seio de dois impérios distintos, fortes e autossuficientes, cada qual com sua própria tradição e cultura. Essa situação continuou até que Constantinopla deixou de ser cristã, invadida que foi pelos turcos otomanos. Perdendo a situação de sede da Igreja Ortodoxa, a partir de então tal posição passou a ser reivindicada pela Rússia, que se considera a 3ª Roma, época na qual seus imperadores adaptaram para a língua russa o título “césar”, passando a “czar”, nos tempos de Ivan, o Terrível. A igreja Ortodoxa, tornada oficial na Rússia, passou a ser dirigida no reino pelo patriarca de Moscou. Essa situação foi interrompida no século XX, com a revolução comunista. Reinstituídos por Stalin em 1943, o Patriarcado e a Igreja ainda sofreriam perseguições sob Khrushchev, que chegou a fechar 12 mil templos. Menos de 7 mil permaneciam ativos em 1982. Com o ateísmo de estado das nações comunistas, a Igreja Ortodoxa sofreu fortemente com perseguição e censura, e não somente na Rússia, mas também na Albânia, na Romênia, além de outros países do leste europeu.
Atualmente, a Igreja Ortodoxa é formada pela comunhão de catorze jurisdições eclesiásticas autogovernadas que professam a mesma fé e praticam basicamente os mesmos ritos, com algumas variantes culturais. O chefe espiritual das Igrejas Ortodoxas é o Patriarca de Constantinopla, título mais honorífico que efetivo, uma vez que os patriarcas de cada uma dessas igrejas são independentes. Desta forma, diz-se que o Patriarca de Constantinopla é o primeiro entre iguais. Para os ortodoxos, o chefe único da Igreja é o próprio Senhor Jesus Cristo. A autoridade suprema da Igreja Ortodoxa na terra é o Santo Sínodo, que se compõe de todos os patriarcas chefes das igrejas autogovernadas e dos arcebispos primazes das igrejas autônomas, que se reúnem por chamada do Patriarca Ecumênico de Constantinopla. Historicamente, a Igreja Ortodoxa reconhece sete Concílios Ecumênicos: Os dois de Niceia, os três de Constantinopla, Éfeso e Calcedônia.
No Brasil, a Igreja Ortodoxa chegou juntamente com a imigração árabe. A primeira instituição foi edificada em São Paulo, no ano de 1904, sendo que a grande Catedral Ortodoxa foi aberta ao público em 1954, por ocasião da celebração do quarto centenário da cidade de São Paulo.
Os cismas da igreja cristã e as tentativas de volta à unidade inicial no século XX, chamado de Ecumenismo, é o próximo assunto a ser abordado.

46. A IGREJA E A TEOLOGIA

“E disse Deus a Moisés: Eu Sou o Que Sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós”. (Êxodo 3.14)


Teologia é a ciência ou conhecimento de Deus: sua natureza, atributos e suas relações com o homem e com o universo. Como ciência, ela é humana, mutável, variando de acordo com a passagem do tempo e com a diversidade das culturas alcançadas pelo evangelho. Vamos examinar sua evolução em diferentes momentos da história da Igreja.
Nos quatro primeiros séculos da história da Igreja, Alexandria no Egito, Antioquia na Turquia e Cartago no norte da África Ocidental foram importantes centros de debate teológico inicial. A participação dos Pais Apostólicos, o desenvolvimento dos credos e a canonização do Novo Testamento destacam-se como importantes contribuições teológicas no período.
Na Idade Média, o Escolasticismo é um dos movimentos intelectuais mais importantes da teologia. Método de pensamento crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias, o Escolasticismo tentava conciliar a fé cristã com o sistema de pensamento racional da filosofia grega. A obra-prima de Tomás de Aquino, Summa Theologica, é apontada como exemplo maior do período.
A época da Reforma, uma das mais criativas na história da teologia cristã, destaca principalmente a teologia de Martinho Lutero e a de João Calvino. Base do ataque dos reformadores à heterodoxia católica medieval, a teologia da Reforma Protestante foi um rompimento com o paganismo religioso do catolicismo, promovendo o retorno às Escrituras, em seus cinco valores fundamentais, conhecidos em latim como Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus e Soli Deo Gloria.
Na Idade Moderna, a partir do século XVIII, a teologia passou a ser um fato global, não mais restrito à Europa, tendo como motivadores a colonização dos Estados Unidos, os avivamentos (principalmente com Jonathan Edwards) e a criação de seminários. Até o século XX, houve uma hegemonia anglo-germânica na teologia e, a partir de então, a prevalência passou a ser dos Estados Unidos. Outros fatos importantes foram: a expansão da teologia Cristã na Austrália, na Ásia, na Índia, no Extremo Oriente e na África abaixo do Saara. O Iluminismo, o movimento mais expressivo ocorrido na Idade Moderna, com seus desdobramentos no Romantismo, no Marxismo, no Protestantismo Liberal, no Modernismo, na Neo-ortodoxia e outros, produziu reflexos na teologia do período. 
Importantes teólogos têm surgido nos últimos séculos. O dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855) teve uma vida constestadora. Homem amargo e de convivência difícil, principalmente após uma relação amorosa mal resolvida com uma jovem, após muitos escritos filosóficos polêmicos, Kierkegaard tornou-se teólogo, tentando responder questões como “de que maneira alguém pode ser um cristão verdadeiro em um mundo caído” e encontrando respostas desesperadoras. “Somente os milagres de Deus poderiam nos salvar”, concluía ele. Kierkegaard não tinha esperança nos sistemas ou nas instituições religiosas de sua época. Tendo vivido em um século no qual a igreja luterana dinamarquesa era influente e próspera, Kierkegaard criticava a pouca vida espiritual que nela via. Após ataques devastadores à igreja organizada, Kierkegaard publicou 21 artigos fundamentais no jornal “A Pátria”, entre dezembro de 1854 e maio de 1855. O teólogo faleceu em 1855, aos 42 anos de idade. A influência de Kierkegaard cresceu no século XX, quando foi saudado como o "pai do existencialismo".
No século XIX, os avanços alcançados pela ciência pareciam transformar o mundo em um lugar menos misterioso; por isso, em vez de um Deus sobrenatural, muitos procuravam criar o paraíso na terra. A teoria de Darwin e outros avanços científicos questionavam os elementos sobrenaturais da Bíblia. A teologia liberal daquela época retratava um Deus sem ira, um Cristo ético e um Reino de Deus plenamente mundano. No século XX, no entanto, a I Guerra Mundial esfriou a euforia existencialista vivida no momento, quando muitas pessoas passaram a enxergar a natureza falida do pensamento liberal. Entre esses questionadores estava um pastor chamado Karl Barth.
Voltando-se para a carta paulina aos Romanos e diante das atrocidades da guerra, Karl Karl Barth (1886-1968) encontrou algo que mudou sua fé e promoveu uma volta à teologia de Agostinho, Lutero e Wesley. Em sua obra “Comentário da Carta aos Romanos”, Barth descrevia Deus como soberano e transcendente. A queda do homem foi o primeiro passo, pois a partir de então, o homem estava atrelado ao pecado, não sendo mais capaz de descobrir a verdade de Deus por si mesmo. Deus precisava se revelar ao homem, e ele fez isso através de Jesus Cristo. As afirmações doutrinárias de Barth causaram muita discussão, tornaram-no professor de teologia na Alemanha e colocaram-no em rota de colisão com o discurso de Adolf Hitler sobre a igreja. Em 1935, Barth foi expulso da Alemanha e fugiu para a Basileia, na Suíça, a fim de ensinar teologia, onde escreveu muito, incluindo sua obra principal, os treze volumes da “Dogmática Eclesiástica”, obra-prima teológica do protestantismo. Suas idéias se tornaram a base da neo-ortodoxia.  Embora contestado em algumas ideias que deixou, Barth encorajou o estudo bíblico sério, enfatizou a pregação dinâmica e levou o homem de volta à compreensão de sua necessidade do Deus todo-poderoso. Em uma época em que muitos se haviam  voltado para o mundo em busca de esperança, ele pedia que todos olhassem para Cristo.
O nazismo de Hitler expulsou o teólogo Karl Barth da Alemanha, mas executou Bonhoeffer. Aluno de Karl Barth, Dietrich Bonhoeffer (1906-1945) foi doutor em Teologia na Universidade de Berlim com apenas 21 anos. Ele era capelão e orador luterano naquela cidade quando Hitler chegou ao poder em 1933. As idéias nazistas começaram a se infiltrar na igreja, com Hitler buscando apoio do clero luterano e católico e seduzindo o povo com a ideia de uma igreja puramente alemã. No entanto, cristãos sinceros se opuseram ao nazismo, aderindo à Declaração de Barmen, de autoria de Karl Barth, a qual destacava os erros doutrinários dos cristãos alemães. Bonhoeffer desempenhou uma atividade político-religiosa em seu ministério, e sua atividade política acabou causando sua prisão em 1943, principalmente por ajudar a introduzir clandestinamente judeus na Suíça. “Cartas e Papéis da Prisão” foi sua obra literária enquanto aguardava a execução, com publicação póstuma. "Cristianismo sem religião", "a morte de Deus", "o mundo atingiu sua maioridade" e outras expressões suas acabaram sem explicação com a sua ausência. Em 1945, Dietrich Bonhoeffer foi enforcado pelos nazistas. A II Guerra Mundial terminaria poucos meses após, no mesmo ano.
Bonhoeffer cria que a fé tem custo, precisa ser convincente e cheia de autonegação. Segundo ele, muitos aceitavam na sua época um cristianismo composto por uma "graça barata", encorajando uma fé fácil. Mais de meio século após sua morte, estamos vendo hoje em muitas igrejas essa triste realidade.